<$BlogRSDUrl$>

domingo, novembro 21, 2004

O INIMIGO DA HORA: NEOCONSERVADORISMO
O inimigo é vermelho, com outrora. Arvora-se como portador de messiânica mensagem, não mais escrita no curso inexorável de uma história finda no seu próprio curso, mas sim grafada em linhas tortas- tortíssimas inclusive- por um Deus Verdadeiro. Como o vermelho de antes- que alguns vendem como ainda o real perigo, não raro e não menos casualmente exatamente os vermelhos de hoje- é possuidor de uma fé inabalável em seus preceitos, e dicotomiza o universo naqueles que seguem a crença salvadora- os sábios, honestos e justos- e os demais- perversos, pérfidos, ignaros e alienados. O de outrora dizia falar em nome da verdadeira classe, pois produtora, em contraste com a classe que explorava e esbanjava em artes o ganho com o suor das massas; o de hoje fala em nome do "americano médio", da "verdadeira América", uma romântica América profunda tão real quanto a sinceridade de muitos de seus propugnadores...tal América se opõe exatamente a outra, a da devassidão, do entertainament, daqueles que não são americanos de fato, e vivem de explorar o trabalho duro das maquinárias nos cinturões subsidiados. O grande inimigo da liberdade hoje não é uma organização de nações usada apenas como instrumento ocasional por tal ou qual país em conjunturas diversas; o grande inimigo da liberdade hoje é vermelho, o vermelho do Partido Republicano americano.
É impressionante como os vermelhos tupiniquins- desde economistas insanos a analfabetos orkutianos- pretendem desvelar aos olhos parvos dos descrentes a maligna conspiração em curso mundo afora, remetendo a seus gurus americanos tão ou mais imersos na mixórdia de sandices e estupidez que os próprios. Uma de suas prediletas acusações refere-se a uma espécie de "etapismo": a esquerda enviaria ao povo suas idéias em pacotes diferenciados, aparentemente sem conexão, e pretenderiam avanços graduais, lentos e principalmente na área de mentalidades, a fim de alcançar em futuro distante um socialismo não muito diferente do visto no século XX. A idéia guarda lógica, e não deve ser descartada; mas é importante frisar o quanto esses mesmos neovermelhos parecem simplesmente não crer que tática similar seja utilizada pelos carolas que tanto adulam na pátria-espiritual de todos eles. Tão logo alguém aponta que a vitória dos "valores morais" de hoje está longe de ser o objetivo realmente pretendido por seus defensores, que se pretende mudanças muito mais profundas nos EUA e que o discurso desses grupos é moldado para as massas exatamente tendo em vista o processo "etapista" acima descrito, é-se acusado prontamente de agente do globalismo da ONU ou algo que o valha. É como se a guerra por consciências, o embate cultural dissimulado, os objetivos profundos ocultos por trás de intenções aparentemente moderadas, fosse exclusivo dos gramscianos ateus verde-amarelos. O que estou querendo dizer? Um pouco de didatismo e clareza no texto hermético: o atual movimento existente nos Estados Unidos da América do Norte é a maior ameaça às liberdades individuais na história recente daquele país.
Provas? Pululam senhores, pululam na internet àqueles que têm olhos ainda não cegos pelo esplendor da fé nova; basta visitar sites realmente liberais, ligados ao posicionamento libertário americano, e verão dezenas de artigos. Saberão sobre o desejo Bushiano de restringir a venda de armas, em abraço apertado com Michael Moore; saberão sobre as interferências neoconservadoras sobre livros escolares no sul dos EUA, dignas de uma matéria extensa no Escola sem Partido; do financiamento governamental a programas defensores da abstinência sexual, algo tão nonsense sob ótica liberal quanto o financiamento democrata a ONGs distribuidoras de preservativos; do aumento da Guerra às drogas, que já tolheu bilhões do contribuinte na tentativa de impedir as escolhas de consumo desse mesmo contribuinte; verão dezenas de exemplos de cidadãos submetidos às mais esdrúxulas situações, como na mais tosca ditadura latino-americana, pelo Ato Patriótico, que até no nome lembra a novilíngua orwelliana; e mais, muito mais. Basta procurar minimamente, como sempre noa aconselha Olavo de Carvalho, e conferir outro lado que não os asquerosos apelos "pró-civilização ocidental" que pulularam no MSM pós-2 de novembro.
Fica novamente o recado, repisado posto que já dito no artigo anterior: é simplesmente impossível que um verdadeiro liberal se jacte da vitória de George W.Bush; Bush não é liberal nem econômica nem socialmente. Confesso que desconheço a origem semântica da singular acepção que o termo "liberal" tem nos Estados Unidos, significando esquerdista; mas um olhar rápido sobre as propostas- e ações, que são diversas das retóricas- referentes ao conflito Estado x indivíduo dos dois principais partidos americanos hoje nos leva a inevitável conclusão de que os republicanos merecem tão pouco o rótulo de liberais que a dicotomia ganha até ares de verdade, embora os democratas também não sejam obviamente liberais. Hoje o que há nos EUA são dois modelos de coletivismo, dos quais o vermelho hoje é o mais nefasto posto que alcançou enorme poder nas últimas eleições.
Claro que é compreensível que conservadores se jactem da vitória Bushiana; saudosos são de uma maior cumplicidade entre igrejas e Estado- que já foram sim de enorme e terrível intimidade nos EUA, e estou absolutamente pronto a discutir com quem afirme o contrário -, de épocas "radiantes" nas quais pessoas eram presas por sodomia, "bruxas" condenadas à morte e, mais recentemente, professores presos por defender o darwinismo em classe. A condenação "moral"(???) do casamento gay, a inclusão em livro escolar da Flórida de trecho definindo o casamento como "entre homem e mulher" e "para sempre", tábuas com os Dez Mandamentos tal e qual monolitos a adornar instituições públicas...são passos aparentemente pequenos em direção a uma reedição daqueles tempos negros, mas coerentes com a trajetória muito bem traçada pela direita religiosa norte-americana, que não abandona o comedimento protestante e se exulta hoje à toa, e sim por compreender- ao contrário dos neovermelhos tupiniquins- que estão, ainda que timidamente, começando a vencer a guerra contra o indivíduo. O que não é compreensível é que seres ditos liberais tenham algum apreço por processo tão nefasto como esse.
Felipe Svaluto Paúl( lembrando que a liberdade não é vermelha nem em cinema francês)

segunda-feira, novembro 01, 2004

AGORA É BAD
Atendendo aos inúmeros, constantes e irritantes apelos de meus queridos leitores americanos lusófonos decidi deixar em olvido digno uma deplorável entrevista de Marilena Chauí em prol de comentários acerca da eleição americana. O que aqui se dirá é um editorial, colocando portanto a posição oficial deste autor- a despeito e talvez exatamente pela objetividade que pretendo tomar como norte no texto.
Falo a princípio sobre George. É ocioso repetir que a mídia brasileira cobre com tendenciosidade ímpar as venturas e desventuras do caubói; aderiram os nossos prestimosos jornalistas a torcida universal contra o atual presidente, escrevendo panfletos que quando muito demonstram que não dormiram durante a exibição de FAHRENHEIT 9/11. Salvo a honrosa exceção do jornal O GLOBO, que fez excelente cobertura da eleição, publicando editoriais de jornais pró-Bush e entrevistas em defesa do candidato em quantidades significativas e ainda questionários nos quais o leitor testava seus conhecimentos sobre as plataformas dos dois principais oponentes- que penso ser devedora em muito senão exclusivamente da simpatia de Ali Kamel pelo candidato- os demais órgãos da imprensa se devotaram a malhar o judas estadunidense. Que isso serve de exemplo significativo a fim de contestar os insanos e/ou pérfidos vários que vêem ou fingem ver na mídia brasileira uma caixa de ressonância do grande capital contra os pobres e famélicos, é fato; mas fato este que não leva necessariamente qualquer cidadão dotado de cérebro a apoiar Bush, como crêem outros tantos insanos e/ou pérfidos.
Bush fez um governo sofrível, essa é a verdade. A se ignorar a Guerra ao Iraque- e notem que aqui se ignora para não gerar discussão paralela um dos pontos principais do atual governo, e aquilo que Bush parece crer seu trunfo maior- o que temos são ações as mais desastrosas vistas sob um prisma liberal: defícit público absurdo, redução de impostos não acompanhada dignamente por redução do Estado, vociferações contra a união civil homossexual, instauração de um Ato cerceador de liberdades civis, manutenção de prisioneiros em base militar sob condições as mais aviltantes, defesa ferrenha junto a OMC de protecionismos econômicos os mais deploráveis. A esses atos essencialmente anti-liberais soma-se uma retórica que parece evocar um liberalismo, rugindo pela redução de impostos a fim de se apropriar de tema caro a certas parcelas do eleitorado; por isso que erram alguns direitistas brasileiros ao considerar que a confusão entre Bush e liberalismo reside apenas na má-fé ou ignorância dos esquerdistas brasileiros- o Presidente tem parcela significativa na construção desse imbróglio, e atribuo a ele sem pensar muito o aumento da confusão e aversão de parcela significativa da opinião pública internacional quanto ao liberalismo.
Do outro lado temos Kerry, o homem que "luta pela classe média", como diziam cartazes em um de seus discursos. É comum na nossa mídia associarem Bush ao "americano médio", estando Kerry ligado aos interesses e gostos de uma elite mais cosmopolita e refinada. Isso é só parcialmente correto. Kerry é sim ligado a essa elite da Nova Inglaterra, a clássica esquerda blasé; mas procura sempre falar para o americano médio, a classe média. A retórica de Kerry é a retórica da luta de classes, defendendo que Bush governou para os ricos e ele governará para todos. Ouvimos muito esse discurso por aqui, inclusive em propagandas oficiais do governo. Sabemos bem no que isso dá: populismo. Kerry é populista, e seu vice ainda mais. Se há algo de que o mundo não precisa é a maior economia do mundo dominada por populistas os mais toscos.
E há mais um fator forte contra Kerry: George Soros. Sim, Soros é um dos grandes financiadores da campanha pró-Kerry, ainda que indiretamente, doando recursos mil a ONGs ligadas ao espectro mais radical do esquerdismo. É preciso muita confiança em um candidato, muita mesmo, para crer que ele não concederá enorme influência aos seus principais doadores durante um mandato. Pairam sobre a administração Bush dúvidas várias quanto a uma peculiar simbiose Estado x grandes empresas, e não há porque crer estar Kerry livre desse mal. E o mundo também não precisa de um George Soros como Cardeal Richilieu de um demagogo clássico.
O que fazer então? Ficam meus leitores em suas casas nesse dia 2 a assistir péssimos filmes "made for TV"? De forma alguma; a opção para o genuíno liberal se apresenta, ainda que não com a força desejada. Falo aqui de Michael Badnarik, candidato pelo Libertarian Party em alguns estados americanos. O Libertarian Party é o legítimo partido liberal americano, defensor intransigente das liberdades individuais, do Estado mínimo e da economia de mercado. Tenho discordâncias significativas com a plataforma de Badnarik- notadamente na visão do partido da questão islâmica, que parece embebida no mais simplório esquerdismo, e no imediatismo com o qual pretendem aplicar certas mudanças profundas nos EUA, o que chega a denotar certa ingenuidade. Mas não restam dúvidas que o Libertarian Party tem um papel central a cumprir nesse momento da história americana- a preservação da República, lutando em duas frentes: eliminar e impedir a consolidação dos últimos entraves que restam para a confirmação dos EUA como a mais libertária nação do globo, entraves esses representados basicamente por uma direita religiosa tacanha e anacrônica, ainda saudosa de uma associação mais íntima entre Estado e igrejas; e por outro lado impedir o coletivismo propugnado pela esquerda, que ainda não aprendeu a pensar a República que não como um grande coletivo e tende a limitar ao máximo ou eliminar as liberdades individuais em prol de um Estado cada vez mais potente e interventor. Ambos os lados se fazem presentes nessa eleição com força máxima, respectivamente representados por Bush e Kerry. A vitória de qualquer um deles é uma derrota para o liberalismo, é um reforço de tipos diversos mas no fundo muito similares de coletivismos. Ou vencem os neoinquisidores ou o politicamente correto; ou aqueles que querem a obrigatoriedade do ensino do criacionismo nas aulas de Biologia ou os que defendem a obrigatoriedade da matrícula infantil em colégio; ou os que pretendem impedir a união civil homossexual ou aqueles que vêem como crime abominável a condenação do homossexualismo; ou os que querem o fim da indústria pornográfica ou os que distribuem preservativos em colégios com o dinheiro do contribuinte...e vai por aí. Alguém pode alegar que os candidatos não teriam poder para legislar sobre alguns pontos expostos acima, posto o sistema federalista americano. Sem dúvida. Isso é tão certo quanto de que existem inúmeras formas daqueles que controlam o poder federal, mesmo nos EUA- e um liberal tem a obrigação de sabê-lo- de financiar/beneficiar de forma excusa propostas quaisquer que defendam. Uma vitória de Bush ou Kerry seria um reforço inegável para um dos lados na "guerra cultural" americana, e sem dúvida uma derrota para o indivíduo e a República.
Reforçando: entre Kerry e Bush não há voto útil. O único voto possível a um liberal consciente para a presidência dos Estados Unidos é Michael Badnarik. Acenda as chamas da liberdade e vote naquele que confia em você para melhor gerir a sua vida.
Felipe Svaluto Paúl(a libertarian boy)

This page is powered by Blogger. Isn't yours?