domingo, junho 06, 2004
DIA D
Pensava seriamente em deixar passar o Dia D, sem menção alguma nesse blog. Imaginei que qualquer texto soaria piegas, brega talvez, e nada acresceria a avalanche de informações superficiais divulgadas pela mídia nos últimos dias. Além disso imaginei- ainda não fiz a checagem- que colegas blogueiros, amigos de toda hora da América, fariam fila à porta do Blogger para exaltar os libertadores americanos. Como certamente não faria coro com os contentes achei por bem recolher-me ao estudo para a prova de amanhã, deixando os liberais não-hegelianos comemorarem a data como se fossem veteranos de Omaha Beach.
Mas eis que sobra um tempo e me ponho a ler a mass media: por trás de números vários e desencontrados e inevitáveis referências a importantíssima participação brasílica na contenda- conhecem os senhores a Irmandade do Fole?- deparo-me com pretenso debate acerca das falas do Jr. por ocasião do sexagenário. Júnior comparou a Guerra de Hitler a Guerra de Júnior, lembrando que em ambas tudo começou com um ataque surpresa a América. Esquerdistas brasileiros- sempre apressados em ver nos chefes de Estado dos outros símile tão estúpido quanto o nosso mandatário ébrio- correram a dizer que essa seria mais uma das imbecilidades de Bush. Pois bem, erraram feio. Bush acertou, a Guerra de Hitler começou para a América exatamente com um ataque surpresa, apesar das teorias conspiratórias inevitáveis e tolas que contestam essa surpresa. Faltou a Bush apenas o desenvolvimento do raciocínio quanto às similitudes dos eventos.
Na Guerra de Hitler a América não hesitou na aliança sorridente com ditadores deplorados por nossos neocons como o distinto Vargas; na Guerra de Júnior não foi com menor alegria que se aceitou o apoio de Paquistão e Arábia Saudita, ditaduras cruentas e celeiros de terroristas. Na Guerra de Hitler a América fez negócios com o ditador do bigodinho durante toda a década de 30, como se ele nesse período não fosse louco assassino, anti-semita e militarista- muitos no alto escalão o viam como contenção eficaz ao Império do Mal, ainda não batizado assim; na Guerra de Júnior olvidou-se da memória de certos Falcões a lembrança de marotos sorrisos dispensados outrora ao mais recente Flagelo de Deus da humanidade- parece-me não ser por demais esquerdista acreditar que esses falcões viam o novo bigodinho como contenção eficaz a outro Mal, agora com turbante negro. Na Guerra de Hitler a América vai de encontro ao moderado Churchill e o radical Patton, que defendiam respectivamente um maior avanço para o Leste e um confronto mesmo com o Urso Vermelho após o fim da ameaça nazista; na Guerra de Júnior forças e critérios não muito obscuros parecem selecionar os alvos, deixando de lado Estado famélico, claramente beligerante e dotado de armas de destruição em massa de virtualidade nada iraquiana- isso, a Coréia do Norte.
Não pensem os leitores que estas poucas observações buscam um primeiro passo em revisionismo que alterará estrategicamente minha posição quanto a Guerra de Júnior, bote a espera do dissidente que contempla o naufragar do porta-aviões. Continuo acreditando que a Guerra do Iraque foi absolutamente justa, pelo simples fato que sempre me porei a favor de Guerra que pretenda substituir um ditador assassino por uma democracia- se Cheney vai ganhar milhões com isso é algo que cabe as instituições e cidadãos da América acompanhar e julgar. No artigo que publiquei no finado Último Bunker me baseei tão e somente nessa afirmação simplória, analisando o quão absurdo me parecia multidões a protestar mundo afora contra guerra cujo resultado imediato seria a derrubada de um dos mais longevos ditadores em atividade. Não, nenhuma, absolutamente nenhuma referência às armas de destruição em massa virtuais.
O que pretendo aqui então? Criticar os rumos tomados em uma guerra vencedora que salvou o Ocidente de totalitarismo doentio? Criticar Guerra que mal ou bem combate a maior ameaça contemporânea? Sim e não. Sim porque críticas não significam rompimento, seja com o passado ou com o presente. Não pois minha pretensão é maior: consiste em mostrar a uns e outros mais iludidos que não se fazem Guerras, ontem e hoje, por ideologia ou moral. Guerra é realpolitik, questão de Estado apenas. Bush acertou quando disse que a Guerra de Hitler havia começado com ataque surpresa, ou seja Pearl Harbor: antes disso a população americana via os confrontos como apenas mais uma das eternas contendas da “Velha Europa”, a massa era isolacionista e não poucos simpatizavam com o homem do bigodinho- cumpre lembrar ainda que a declaração de guerra contra o Führer foi apenas resposta inevitável ao reverso precedente, a declaração de guerra do Führer a América. Da mesma forma hoje é preciso muita ingenuidade para crer que Bush está em luta pela democracia. O que não significa que dessa luta, por caminhos tortos, não venham a emergir democracias- e é nisso que aposto.
Último recado aos neocons brazucas: é sabido que o Estado liberal é amoral, e esse é uma de suas melhores características, pois não há pretensa “moral superior” a impor aos cidadãos ou mesmo a outros povos- cada indivíduo e grupos que se guiem por suas morais particulares, desde que não interfiram nos direitos alheios. Por que as guerras deveriam ser diferentes? Pensem um pouco sobre as guerras conduzidas segundo valores morais e verão que a última delas...foi a Guerra de Hitler.
Felipe Svaluto Paúl(agente do governo mundial??)
Pensava seriamente em deixar passar o Dia D, sem menção alguma nesse blog. Imaginei que qualquer texto soaria piegas, brega talvez, e nada acresceria a avalanche de informações superficiais divulgadas pela mídia nos últimos dias. Além disso imaginei- ainda não fiz a checagem- que colegas blogueiros, amigos de toda hora da América, fariam fila à porta do Blogger para exaltar os libertadores americanos. Como certamente não faria coro com os contentes achei por bem recolher-me ao estudo para a prova de amanhã, deixando os liberais não-hegelianos comemorarem a data como se fossem veteranos de Omaha Beach.
Mas eis que sobra um tempo e me ponho a ler a mass media: por trás de números vários e desencontrados e inevitáveis referências a importantíssima participação brasílica na contenda- conhecem os senhores a Irmandade do Fole?- deparo-me com pretenso debate acerca das falas do Jr. por ocasião do sexagenário. Júnior comparou a Guerra de Hitler a Guerra de Júnior, lembrando que em ambas tudo começou com um ataque surpresa a América. Esquerdistas brasileiros- sempre apressados em ver nos chefes de Estado dos outros símile tão estúpido quanto o nosso mandatário ébrio- correram a dizer que essa seria mais uma das imbecilidades de Bush. Pois bem, erraram feio. Bush acertou, a Guerra de Hitler começou para a América exatamente com um ataque surpresa, apesar das teorias conspiratórias inevitáveis e tolas que contestam essa surpresa. Faltou a Bush apenas o desenvolvimento do raciocínio quanto às similitudes dos eventos.
Na Guerra de Hitler a América não hesitou na aliança sorridente com ditadores deplorados por nossos neocons como o distinto Vargas; na Guerra de Júnior não foi com menor alegria que se aceitou o apoio de Paquistão e Arábia Saudita, ditaduras cruentas e celeiros de terroristas. Na Guerra de Hitler a América fez negócios com o ditador do bigodinho durante toda a década de 30, como se ele nesse período não fosse louco assassino, anti-semita e militarista- muitos no alto escalão o viam como contenção eficaz ao Império do Mal, ainda não batizado assim; na Guerra de Júnior olvidou-se da memória de certos Falcões a lembrança de marotos sorrisos dispensados outrora ao mais recente Flagelo de Deus da humanidade- parece-me não ser por demais esquerdista acreditar que esses falcões viam o novo bigodinho como contenção eficaz a outro Mal, agora com turbante negro. Na Guerra de Hitler a América vai de encontro ao moderado Churchill e o radical Patton, que defendiam respectivamente um maior avanço para o Leste e um confronto mesmo com o Urso Vermelho após o fim da ameaça nazista; na Guerra de Júnior forças e critérios não muito obscuros parecem selecionar os alvos, deixando de lado Estado famélico, claramente beligerante e dotado de armas de destruição em massa de virtualidade nada iraquiana- isso, a Coréia do Norte.
Não pensem os leitores que estas poucas observações buscam um primeiro passo em revisionismo que alterará estrategicamente minha posição quanto a Guerra de Júnior, bote a espera do dissidente que contempla o naufragar do porta-aviões. Continuo acreditando que a Guerra do Iraque foi absolutamente justa, pelo simples fato que sempre me porei a favor de Guerra que pretenda substituir um ditador assassino por uma democracia- se Cheney vai ganhar milhões com isso é algo que cabe as instituições e cidadãos da América acompanhar e julgar. No artigo que publiquei no finado Último Bunker me baseei tão e somente nessa afirmação simplória, analisando o quão absurdo me parecia multidões a protestar mundo afora contra guerra cujo resultado imediato seria a derrubada de um dos mais longevos ditadores em atividade. Não, nenhuma, absolutamente nenhuma referência às armas de destruição em massa virtuais.
O que pretendo aqui então? Criticar os rumos tomados em uma guerra vencedora que salvou o Ocidente de totalitarismo doentio? Criticar Guerra que mal ou bem combate a maior ameaça contemporânea? Sim e não. Sim porque críticas não significam rompimento, seja com o passado ou com o presente. Não pois minha pretensão é maior: consiste em mostrar a uns e outros mais iludidos que não se fazem Guerras, ontem e hoje, por ideologia ou moral. Guerra é realpolitik, questão de Estado apenas. Bush acertou quando disse que a Guerra de Hitler havia começado com ataque surpresa, ou seja Pearl Harbor: antes disso a população americana via os confrontos como apenas mais uma das eternas contendas da “Velha Europa”, a massa era isolacionista e não poucos simpatizavam com o homem do bigodinho- cumpre lembrar ainda que a declaração de guerra contra o Führer foi apenas resposta inevitável ao reverso precedente, a declaração de guerra do Führer a América. Da mesma forma hoje é preciso muita ingenuidade para crer que Bush está em luta pela democracia. O que não significa que dessa luta, por caminhos tortos, não venham a emergir democracias- e é nisso que aposto.
Último recado aos neocons brazucas: é sabido que o Estado liberal é amoral, e esse é uma de suas melhores características, pois não há pretensa “moral superior” a impor aos cidadãos ou mesmo a outros povos- cada indivíduo e grupos que se guiem por suas morais particulares, desde que não interfiram nos direitos alheios. Por que as guerras deveriam ser diferentes? Pensem um pouco sobre as guerras conduzidas segundo valores morais e verão que a última delas...foi a Guerra de Hitler.
Felipe Svaluto Paúl(agente do governo mundial??)
terça-feira, junho 01, 2004
O DIA DEPOIS DE AMANHÃ
Análise lógica, científica quase, resultou na demonstração de que este escriba não deveria aceitar o convite para o filme. As películas possíveis se resumiam a “cinematização” de clássico máximo da literatura- logo heretismo dos maiores- e blockbuster ecochato; a sessão transcorreria no Iguatemi, meca da classe média iletrada suburbana, dada a gritinhos e risos esquizóides; ausência paterna tornaria necessário o uso de coletivo, logo o coabitar temporário meio de transporte com seres cujas existências me são completamente ignoradas, cujos olhares parvos parecem invariavelmente contemplar a nulidade daquele viver estúpido e sem sentido. Logo, fiquei em casa a ler Hayek e visitar sites deploráveis, repetitivos e conspiratórios.
Antes fosse.
Coagido a ver o filme e desejando há muito livro algo obscuro- O AJUDANTE, Robert Wasler- aceitei os dissabores e por volta das 16 já contemplava a massa indiferenciada no 623. Em menos de 20 minutos- excentricidade domingueira- já estava às portas do famigerado, que me contemplava com seu marrom massificante e convidava o adentrar verdejantes portas balouçadas pelos de praxe- e ai de quem disser ser isso Saramaguiano. Creio ter achado de bom tom aceitar- ou teria sido instinto zumbítico de outro filme B? De toda forma em pouco tempo estava na companhia de colegas a decidir entre o mais recente da safra apocalíptica e a última figuração do adorado de moçoilas e senhoras. Razões temporais nos impõem o primeiro, impedindo o costumeiro exercício de minha sabedoria salomônica. Encontro nesse meio tempo Wasler, olhar gentil e insalubre, genial a não poder mais. Contrariado me deixa levá-lo para a sessão, após minha promessa de não tirá-lo do invólucro da Saraiva durante todo o filme- sim, saco é palavra muito feia.
E eis que começa o fim do mundo, ducentésimo hollywoodiano a esse respeito- não duvido que algum Moore tenha feito documentário comparando a fixação dos estúdios pela destruição do planetinha e a eleição de Bush Jr, ou mesmo Pai. A comparação renderia algo além de risos não fossem as películas apocalípticas notoriamente esquerdistas, aliás como todo bom apocalipse. E o presente trash não foge a regra.
Antes de passar a paranóia de praxe cumpre-me alguns comentários pseudo-técnicos, tentativa desesperada de dar credibilidade a essa peça ímpar. Nesse esforço serei suscinto- e sem travessões, exceto esse último. Senhores, o filme é deplorável e risível, tão ou mais que os trailers precedentes.
Roteiro em parágrafo, único: cientista abnegado e inteligente sabe o que ninguém sabe, exceto representante da terceira idade: o mundo pode entrar em nova Era Glacial graças a poluição dos malignos e consumistas países do Hemisfério Norte; políticos ignoram o moço, com destaque para o vice-presidente dos EUA, ator fantasiado de Dick Cheney; cientista abnegado erra, Era Glacial começa mero século antes do previsto, chuvas torrenciais, neve e furacões EUA adentro, Nova York principalmente; abnegado põe-se a patinar na neve atrás do filho, preso na Biblioteca Pública de Nova York; quando o mundo está para acabar, as coisas voltam ao normal, casal feliz incluso.
Poderia ser bom, ainda que esquerdista? Vejam meus detratores canhotos, afirmo que poderia- até o Decent Films( ou Movies, tanto faz) sabe que qualidade técnica não tem coloração ideológica. Mas não é. Diálogos horrendos e previsíveis, atuações toscas, impressionantes heroísmo e desprendimento dos personagens- principalmente a família-herói principal -, clichês inúmeros- destaque para a construção da relação entre filho do abnegado e mocinha doce, culminando no beijo tendo lareira crepitante ao fundo. Ah, é óbvio: todo poder à natureza, grita o diretor. Tudo é destruído, nada sobrevive a fúria das águas, da neve e, temor dos temores, o frio absurdamente congelante. Este maligno ser, praticamente dotado de consciência própria, persegue heróis biblioteca adentro tal e qual os fantasmas dos conservadores perseguem Molusco. Por sorte, frio absurdamente congelante tem também característica vampiresca, só entra em local se convidado- e cessa sua sanha assassina quando barrado por portas duplas de madeira.
E o esquerdismo, onde está? O ecochatismo é premissa básica do filme e cresce em gradação com o passar dos minutos, incorporando outros elementos da fauna esquerdista para delírio das hienas várias da platéia. Tudo começa com o supracitado Vice americano, que parece governar de fato em lugar de Presidente algo relapso- alguém falou em Cheney e Bush?-, sendo os dois e demais membros do governo os únicos desprovidos de heroísmo no filme. Pelo contrário, é o Vice personagem arrogante e monetarista, critica já de início o Protocolo de Kyoto e passa o resto do tempo a ignorar o alarmista abnegado. Eis que caem as primeiras pedras de granizo, imensas, ainda mais sobre cabeças de pequenos nipônicos. As outras ações da natureza se dão exclusivamente nos EUA, havendo notícias de fenômenos afins na Europa e apenas agradável e ímpar neve na Índia- é de supor que brasileiros devem também ter brincado com os alvos flocos. Com seu país a ruir, o que fazem os americanos? Fogem para o México, incautos, sem saber que provocariam gargalhadas na platéia antiamericana, gargalhadas só superadas quando é avisado por repórter que os States perdoariam a dívida dos países do Terceiro Mundo que permitissem a entrada de refugiados ianques.
Agora a questão: desejava o diretor alguma doutrinação esquerdista? Parece-me complicado dizer que o responsável por A MÚMIA e O RETORNO DA MÚMIA possa ter algo que não vento entre os ouvidos, o que não o coloca na categoria dos ecochatos- estes normalmente têm na cabeça dezenas de estatísticas do Greenpeace, da ONU e da CARTA CAPITAL que provam a iminência do fim dos tempos. Assim não penso se tratar de peça de doutrinação; mas é sem dúvida um reforço a cultura ecochata e antiamericana, reforço a manutenção de um ciclo vicioso no qual o povo deseja consumir sandices verdes, estas são oferecidas e degustadas, e logo mais são exigidas por esse público com ainda maior avidez. Justo e natural, oferta e procura, mercado, capitalismo. Mas o provável sucesso do filme sinaliza algo, sem dúvida. Talvez o fim dos tempos?
Felipe Svaluto Paúl(não ecochato; apenas chato)
Análise lógica, científica quase, resultou na demonstração de que este escriba não deveria aceitar o convite para o filme. As películas possíveis se resumiam a “cinematização” de clássico máximo da literatura- logo heretismo dos maiores- e blockbuster ecochato; a sessão transcorreria no Iguatemi, meca da classe média iletrada suburbana, dada a gritinhos e risos esquizóides; ausência paterna tornaria necessário o uso de coletivo, logo o coabitar temporário meio de transporte com seres cujas existências me são completamente ignoradas, cujos olhares parvos parecem invariavelmente contemplar a nulidade daquele viver estúpido e sem sentido. Logo, fiquei em casa a ler Hayek e visitar sites deploráveis, repetitivos e conspiratórios.
Antes fosse.
Coagido a ver o filme e desejando há muito livro algo obscuro- O AJUDANTE, Robert Wasler- aceitei os dissabores e por volta das 16 já contemplava a massa indiferenciada no 623. Em menos de 20 minutos- excentricidade domingueira- já estava às portas do famigerado, que me contemplava com seu marrom massificante e convidava o adentrar verdejantes portas balouçadas pelos de praxe- e ai de quem disser ser isso Saramaguiano. Creio ter achado de bom tom aceitar- ou teria sido instinto zumbítico de outro filme B? De toda forma em pouco tempo estava na companhia de colegas a decidir entre o mais recente da safra apocalíptica e a última figuração do adorado de moçoilas e senhoras. Razões temporais nos impõem o primeiro, impedindo o costumeiro exercício de minha sabedoria salomônica. Encontro nesse meio tempo Wasler, olhar gentil e insalubre, genial a não poder mais. Contrariado me deixa levá-lo para a sessão, após minha promessa de não tirá-lo do invólucro da Saraiva durante todo o filme- sim, saco é palavra muito feia.
E eis que começa o fim do mundo, ducentésimo hollywoodiano a esse respeito- não duvido que algum Moore tenha feito documentário comparando a fixação dos estúdios pela destruição do planetinha e a eleição de Bush Jr, ou mesmo Pai. A comparação renderia algo além de risos não fossem as películas apocalípticas notoriamente esquerdistas, aliás como todo bom apocalipse. E o presente trash não foge a regra.
Antes de passar a paranóia de praxe cumpre-me alguns comentários pseudo-técnicos, tentativa desesperada de dar credibilidade a essa peça ímpar. Nesse esforço serei suscinto- e sem travessões, exceto esse último. Senhores, o filme é deplorável e risível, tão ou mais que os trailers precedentes.
Roteiro em parágrafo, único: cientista abnegado e inteligente sabe o que ninguém sabe, exceto representante da terceira idade: o mundo pode entrar em nova Era Glacial graças a poluição dos malignos e consumistas países do Hemisfério Norte; políticos ignoram o moço, com destaque para o vice-presidente dos EUA, ator fantasiado de Dick Cheney; cientista abnegado erra, Era Glacial começa mero século antes do previsto, chuvas torrenciais, neve e furacões EUA adentro, Nova York principalmente; abnegado põe-se a patinar na neve atrás do filho, preso na Biblioteca Pública de Nova York; quando o mundo está para acabar, as coisas voltam ao normal, casal feliz incluso.
Poderia ser bom, ainda que esquerdista? Vejam meus detratores canhotos, afirmo que poderia- até o Decent Films( ou Movies, tanto faz) sabe que qualidade técnica não tem coloração ideológica. Mas não é. Diálogos horrendos e previsíveis, atuações toscas, impressionantes heroísmo e desprendimento dos personagens- principalmente a família-herói principal -, clichês inúmeros- destaque para a construção da relação entre filho do abnegado e mocinha doce, culminando no beijo tendo lareira crepitante ao fundo. Ah, é óbvio: todo poder à natureza, grita o diretor. Tudo é destruído, nada sobrevive a fúria das águas, da neve e, temor dos temores, o frio absurdamente congelante. Este maligno ser, praticamente dotado de consciência própria, persegue heróis biblioteca adentro tal e qual os fantasmas dos conservadores perseguem Molusco. Por sorte, frio absurdamente congelante tem também característica vampiresca, só entra em local se convidado- e cessa sua sanha assassina quando barrado por portas duplas de madeira.
E o esquerdismo, onde está? O ecochatismo é premissa básica do filme e cresce em gradação com o passar dos minutos, incorporando outros elementos da fauna esquerdista para delírio das hienas várias da platéia. Tudo começa com o supracitado Vice americano, que parece governar de fato em lugar de Presidente algo relapso- alguém falou em Cheney e Bush?-, sendo os dois e demais membros do governo os únicos desprovidos de heroísmo no filme. Pelo contrário, é o Vice personagem arrogante e monetarista, critica já de início o Protocolo de Kyoto e passa o resto do tempo a ignorar o alarmista abnegado. Eis que caem as primeiras pedras de granizo, imensas, ainda mais sobre cabeças de pequenos nipônicos. As outras ações da natureza se dão exclusivamente nos EUA, havendo notícias de fenômenos afins na Europa e apenas agradável e ímpar neve na Índia- é de supor que brasileiros devem também ter brincado com os alvos flocos. Com seu país a ruir, o que fazem os americanos? Fogem para o México, incautos, sem saber que provocariam gargalhadas na platéia antiamericana, gargalhadas só superadas quando é avisado por repórter que os States perdoariam a dívida dos países do Terceiro Mundo que permitissem a entrada de refugiados ianques.
Agora a questão: desejava o diretor alguma doutrinação esquerdista? Parece-me complicado dizer que o responsável por A MÚMIA e O RETORNO DA MÚMIA possa ter algo que não vento entre os ouvidos, o que não o coloca na categoria dos ecochatos- estes normalmente têm na cabeça dezenas de estatísticas do Greenpeace, da ONU e da CARTA CAPITAL que provam a iminência do fim dos tempos. Assim não penso se tratar de peça de doutrinação; mas é sem dúvida um reforço a cultura ecochata e antiamericana, reforço a manutenção de um ciclo vicioso no qual o povo deseja consumir sandices verdes, estas são oferecidas e degustadas, e logo mais são exigidas por esse público com ainda maior avidez. Justo e natural, oferta e procura, mercado, capitalismo. Mas o provável sucesso do filme sinaliza algo, sem dúvida. Talvez o fim dos tempos?
Felipe Svaluto Paúl(não ecochato; apenas chato)