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sábado, abril 24, 2004

TOTALITARISMO, UFF E ALGO MAIS.
Há gentes de boníssimos espíritos e espertas mentes que consideram o distinto Olavão um paranóico. Não são necessariamente esquerdistas, embora normalmente apresentem queda pelo pensamento canhoto; não raro concordam com parte significativa do escrito pelo filósofo, ficando as discordâncias várias apenas no campo da gradação. Esses ímpares consideram sim que há preponderância absoluta esquerdista no meio intelectual, mas consideram paranóia falar em revolução gramsciana; sabem bem do esquerdismo de Kerry, mas riem das associações do JFK vivo com o regime vietnamita; riem igualmente de sandices esquerdistas, mas insistem na conversão da esquerda a democracia e ao Estado de Direito, muitas vezes emitindo politicamente corretíssimas como “ os esquerdistas são bem intencionados, só estão meio perdidos ideologicamente”. O leitor conhece alguém assim? Se conhece e quer retirá-lo dessa triste situação, fazendo-o perceber que a sua crença na paranóia do Olavo é fruto de puro desconhecimento, fica a recomendação: uma temporada na UFF. Se não quer cursar algo na bela Fluminense, recomendo que apenas perambule por lá, fazendo sombra aos canídeos- não, a quase inexistente segurança nada fará com seu amigo. Ela é o menor e menos interessante aspecto da universidade.
E qual é o principal? Os totalitários. Gente aparentemente comum, ao menos tão comum como um universitário pode ser. Aspectos algo alternativos, óculos, cabelos esquisitos, corpos carentes de qualquer exercício, roubas as mais diversas- muitas vezes se fazem acompanhar, ou preceder, por cheiro criminalmente suspeito. Gente de bom trato, às vezes bem falantes, outras não; mais ou menos cultos, mais ou menos gregários, mas sempre dispostos discutir- o que quer que seja. Como também me apetecem as discussões, inclusive as inúteis, não tardei a conhecê-los.
Já havia travado contato com alguns menores, soldados-rasos e muitas vezes alienados na guerra ideológica, quando conheci o Comandante. Comandante algo abalado, me parece, pelos ataques desferidos de dentro de suas próprias fileiras. Mas ainda assim Comandante; daqueles que cheiram a política, espécie de estudante profissional- para quem não conhece, espécie nada rara, seres que acreditam que estudante não deve estudar; almejam todos, algum dia, se metamorfosearem em um Lindberg Farias. O moço em questão certamente está muito próximo disso: boa retórica e grande conhecimento do que diz o auxiliam na conversa, bem como razoável preocupação com conceitos e definições claras- via eu que ele tinha enorme experiência naquele tipo de conversa, e confesso que a facilidade dele em conduzir o debate para o terreno da tese da mais-valia me deixou sem argumentos. Como contestar a exploração do proletariado dignamente? O puro empirismo, aprenda desde já o leitor, não costuma convencer esses seres. Se isso me deixou em desvantagem nesse aspecto, ao menos parece que consegui sustentar bem a validade dos princípios liberais na racionalização do sistema capitalista- o que não é pouco diante de um militante semi-profisisonal.
Mas não é sobre isso que quero tratar aqui. O leitor desse blog certamente já tem bem claro que o capitalismo- mais especificamente o liberalismo, em oposição ao “capitalismo de Estado” que ora vigora no Brasil- é infinitamente superior ao regime socialista e mesmo a qualquer tentativa de planificação econômica. Quero sim tratar aqui do totalitarismo, do totalitarismo inerente a concepção marxista. E como esse totalitarismo se expressava no supracitado? O moço considera a democracia moderna uma “criação burguesa”, fruto de “valores burgueses impostos a sociedade”. Esse conceito não pára aí, mas avança, caindo aos pedaços como trator de fábrica soviética: seria também valor burguês a própria liberdade, que eu tão arduamente defendia. Confesso que me faltou a idéia no momento, mas hoje penso em perguntar: e a moral, também é invenção burguesa? Seria a combinação perfeita, Nietzsche e Marx, a Vontade de Potência encarnada no Estado Proletário.
Já nesse dia pensei em escrever a respeito; mas pensei melhor e concluí: o moço é político semi-profissional, e marxista. A simbiose dessas categorias simplesmente impede que se venha a aferir verdades ou mentiras em qualquer discurso dele. Quando se é marxista já se tende a mandar a moral às favas; quando se é militante marxista isso é quase um ato natural. Esperei e escrevo apenas hoje; por quê? Por que conversei com outro totalitário, e de tipo diferente. Mas igualmente explícito.
Debatíamos novamente liberalismo X socialismo. Desta vez eu conseguia certa vantagem: o moço de agora não é político profissional, sua retórica não é tão boa, e ele não jogou a armadilha famigerada da mais-valia. Mas eis que a discussão amigável vai se encaminhando de forma que me permite a pergunta fatal: tem o moço ampla liberdade para dizer o que bem deseja no satânico capitalismo; teria eu essa liberdade sob um sistema socialista? Ele pensa e emendo a explicação, dizendo que isso jamais seria possível, que pela sua própria natureza econômica planificadora o socialismo não pode se permitir democrático, pois a possibilidade de contestação emperra a máquina organizada pelo Estado. Eis que vem a frase: “sim, mas em nome do bem comum...não é desejável, mas em nome do bem comum até aceito que essas liberdades das quais você fala fossem controladas”. A frase certamente não foi exatamente assim, mas se aproximou muito. É isso mesmo: a democracia relativizada, a liberdade relativizada. Faltava alguma coisa? Sim, o Estado de Direito...(in)felizmente ainda tínhamos a aula de História Antiga, que jamais decepciona nossos carrascos-amigos marxistas!
A senhora professora, marxista assumida, dá tranqüilamente sua aula- bem, inclusive. Mas eis que começa a falar sobre a gênese do Estado, tema que já havia sido abordado na aula anterior e que motivou intervenção minha. Dessa vez fico quieto- esses moços querem marxismo...pois é o que terão. Mas a coisa não pára por aí, cresce como bola de neve, vermelha, cor de sangue dos 100 milhões de outrora. Fala mal do neoliberalismo- sabe-se lá por que!-, permite como de praxe que os PSTUsistas tomem tempo da aula com seus discursos anti-tudo...e fecha, com chave de ouro de prisão fidelista: “é por isso que reclamam: os Sem-Terra estão desrespeitando a propriedade privada!”, isso com uma “vozinha” absolutamente jocosa, como se uma afirmativa dessas fosse um absurdo, e não o contrário. Pronto, tragicomédia completa: foi-se também o Estado de Direito.
Isso, meus senhores, é a UFF, e ela em nada difere das demais universidades públicas. Não obviamente toda a UFF, mas ao menos parcela significativa do campus do Gragoatá, reduto das Humanidades, tradicionalmente tão pouco humanas. Na saída os PSTUsistas colhiam votos para nos representarem em Congresso da UEES- acho que é essa a sigla. Acredito que eles não conseguiram os votos necessários- mas e daí? Se eles não falaram em nome do curso outros o farão, outros similares, com suas discussões internas mas irmanados na relativização da democracia, das liberdades, da propriedade privada, do Estado de Direito...
Isso combinado com a pesquisa que revelou a absoluta falta de importância que esse singularíssimo povo brasileiro dá exatamente a liberdade, democracia e Estado de Direito...bem, já está decidido: lutarei e muito contra o processo revolucionário, como já tenho feito há algum tempo- e continuo fazendo dentro da própria UFF. Tentarei vários caminhos, desse blog até as salas de aula, essas de agora e aquelas em que estarei como professor. Com sorte conseguimos nos organizar, criar movimento sério, superar vaidades ao mesmo tempo tão humanas e tão contraproducentes. Tenho realmente fé nessa possibilidade, pois não conheço um só liberal mal-intencionado. Companheiros da verdade e ombreados com a moral que falta aos outros, nossa vitória é inevitável- só acho, infelizmente, que ela virá após novo surto mundial de totalitarismo absoluto, Brasil inclusive; e dificilmente nossos olhos serão testemunhas do alvorecer da nova era libertária- mas todos o seremos, seja imortalizados como almas ou como nomes na história do livro daqueles que não se rendem.
***
E ela já tem um par. Situação triste, amigo, sem dúvida alguma: situação propícia a que aflorem sentimentos os mais díspares, alguns de grande nobreza e outros de enorme vileza- suponho que você ache que ele não é o par certo não? Sem dúvida é boçal, ignorante, jamais leria Locke ou compreenderia a beleza de Peixe Grande, embora dissesse a moça que achou o último Burton “bem legal”. Pois é, bem sei o que é isso. Mas há situação pior. Exemplo? A moça é uma incógnita. Ela tem par? Deseja um? Desejaria que você fosse esse um? O estar contigo é para ela tão interessante quanto é para você o estar com ela, é apenas “legal” ou os risos escondem um desprezo sutil? Os seus monólogos, sua visão de mundo, seus pudores morais...aquilo que sempre imaginou constituir o seu melhor, é esse conjunto para ela algo mais que chatice de um velho moço? Há como responder essas perguntas? Talvez. É interessante? Dificilmente.
Ao menos se alegre, pois você filosofa...já em mim isso só aflora meu lado romântico, na concepção máxima do termo: o desejo de heroísmo, de participar de uma revolução, ou melhor, de uma contra-revolução. Pensei em piadinhas várias para concluir, mas não cabe. É a tristeza que impera.
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E cai o pano.
Felipe Svaluto Paúl(ainda pensando na inevitabilidade do arrependimento em relação ao “algo” que acrescentei ao texto; ao menos há um amigo para responsabilizar...que post inoportuno!)

domingo, abril 04, 2004

MAIS SOBRE O SIONISMO COMO DISCURSO DE MINORIA
Há quem acredite que é melhor deixar passar; há os que pensam, sabe-se lá por qual raciocínio torto, que é dever de um liberal declarar por banner amizade eterna a Israel; há os que pensam ainda ser a aliança entre George Bush e protestantes afins com judeus direitistas militantes o máximo que a direita produziu em décadas. Não por coincidência estes costumam ter posições muito claras a respeito dos discursos das minorias: condenam cotas raciais, o ativismo gay, as reservas silvícolas, a feminização da sociedade e fenômenos afins- com razão que não me atrevo a contestar. Basta porém grupos judeus organizados usarem as mesmas táticas, o mudus operandi usueiro e comum aos movimentos de minorias e faz-se a escuridão. Na maior parte das vezes ignoram, vez ou outra tentam tergiversar alienando o tema e focando-se em outro ponto, real ou abstrato. Não raro usam eles mesmos falácias e desvios que condenariam fossem “de esquerda” ou dos discursos supracitados. Por que isso?
É complicado explicar. Pelo pouco que pude perceber esse pensamento excêntrico se baseia em dois pilares: os mais filosóficos recorrem aos “valores judaico-cristãos”, a necessidade de manter e estreitar a aliança entre as duas crenças para reviver valores que seriam- e são mesmo- a base da formação moral e cultural de nossa sociedade, aliança essa que fomentaria uma “contra-revolução” capaz de enfrentar o relativismo e seus filhotes pós-modernos. Os mais pragmáticos consideram Israel a porta de entrada da democracia no Oriente Médio, o baluarte da civilização em meio aos bárbaros, o primeiro front da luta ocidental contra o terrorismo- há diversas gradações e nuances nesse discurso. Mas isso explica, não justifica. Haveria justificativa no usar dois pesos e duas medidas, de acordo com conveniências ideológicas?
Tudo isso escrevi para justificar minha incursão nesse terreno minadíssimo. Minado pela direita, graças ao que expus acima; minado pela esquerda, que pode até concordar comigo nesse ponto em comum, mas vai rechaçar a conclusão final do conceito de “ditadura das minorias”; e minado principalmente pelos judeus militantes e suas máquinas monstruosas de imprensa e processos.
Apesar disso volto à carga, em dever republicano. Após explicitar no artigo THE PASSION: TENTANDO DIZER ALGO NOVO apenas dois exemplos do sionismo como discurso das minorias, eis que me deparo com outro no site Mídia Sem Máscara- listado ao lado. Trata-se de respostas de leitores a nota de Hildegard Angel publicada no Jornal do Brasil, JB para os íntimos. O artigo em si é de fato esquisito, a conclusão da colunista sobre as pixações tem mesmo um viés de comicidade involuntária. Mas quem presta atenção no que escreve Hildegard? Os judeus militantes prestam, e a ponto de considerar o artigo não cômico e burro como é, mas sim trágico. Trata-se, como sempre, de peça proto-racista, ameaça a harmônica convivência entre brasileiros etc...todo aquele discurso vazio que você, amigo liberal ou conservador, critica nos discursos negros se faz presente ali. Para não tornar o texto extenso demais omito a resposta de leitor menos afamado, e em contrapartida publico na íntegra a resposta do nosso antigo conhecido Sr.Osias Wurman. Segue:

'Outeiro da Glória'
Escrevo para transmitir ao Jornal do Brasil a profunda indignação da Comunidade Israelita do Rio de Janeiro, a qual presido por meio da Fierj, pela publicação de nota na coluna da jornalista Hildegard Angel (23/3), acima intitulada. O JB tem uma história de dignidade e respeito pelas minorias e sempre foi abrigo seguro para as causas judaicas e sionistas. Sou testemunha de seu respeito pessoal às tradições judaicas e sei dos vários executivos, membros de nossa comunidade, levados ao JB por sua iniciativa. Não podemos conceber que os milhares de leitores, assinantes e anunciantes, fiéis ao JB até nos piores momentos por que passou, se vejam frustrados pela indignidade publicada sob suspeita leviana e absolutamente fantasiosa. Culpar ou levantar suspeição de grafitagem com símbolos nazistas, efetuada por membros da comunidade judaica carioca, é uma declaração caluniosa. Nossos irmãos de fé são destaque e talentos na escrita e no jornalismo brasileiro. Nunca na grafitagem! Por decisão do Supremo Tribunal Federal, no caso Ellwanger, passaram a ser crimes inafiançáveis e imprescritíveis o racismo e o preconceito racial. A leviandade de uma falsa acusação enquadra-se neste caso. Solicito que, na melhor linha de dignidade e respeito à verdade, o JB mande reparar a calúnia contra a nossa comunidade. Estou certo de que será um reparo em respeito também a seus leitores de outros credos, que não desejam ''beber o veneno'' da discórdia e do desentendimento religioso em nosso Brasil.
Osias Wurman, presidente da Federação Israelita do Rio de Janeiro (Fierj) e vice-presidente da Confederação Israelita do Brasil (Conib), por e-mail.
***
Seriam desnecessários os comentários fosse outra a época ou leitores; na atual conjuntura aqui os deixo, didaticamente, em parágrafos:
_O primeiro ato consiste em enaltecer a publicação, demonstrando que não se trata de crítica a instituição mas sim a nota em si. Além do tom cordato angariar a simpatia dos leitores diminui nestes a propensão a acreditar que se trata de paranóia. Como exercício sugiro aos leitores que imaginem carta de um Presidente de movimento negro ao GLOBO objetivando repudiar artigo semelhante. Alguém duvida que o jornal seria mostrado na carta como “antigo promotor da igualdade racial” etc?
_Cita-se em seguida os “milhares de leitores, assinantes e anunciantes”, ou seja, os que bancam o jornal. Pessoas as quais se dirige implicitamente Wurman, como que a mostrar a jornalista e ao jornal que a manutenção de comportamento “anti-semita” combinada as críticas de Wurman podem aprofundar a crise do já combalido JB. Alguém não sabe quais são os “piores momentos por que passou” o jornal? Parece ficar o aviso: “JB, você se afoga...quer mais água garganta adentro?”
_Passa-se então ao golpe certeiro: apresenta-se “queixa-crime retórica”, ou seja, mostra-se ao jornal como ele pode ter incorrido em crime, e como uma ação judicial pode ser facilmente desencadeada por Wurman e os seus contra o jornal. Encosta-se na parede, acua o animal. Resta algo que não o abaixar a cabeça e assumir o erro? Restaria sim, uma batalha judicial e retórica, talvez até semântica, tentando mostrar o óbvio: burrice e anti-semitismo são coisas diferentes. A colunista social escreveu uma estupidez, não uma peça racista.
Mas nesses tempos modernos? Flores já devem estar sendo entregues na FIERJ a mando do JB.
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Evoquei logo acima os tempos modernos, e o faço novamente para justificar a justificativa: senhores, não tenho absolutamente nada contra judeus, mulheres, negros, gays, índios, deficientes e demais auto-proclamadas minorias. Mas tenho tudo- e repito em maiúsculas, TUDO- contra os discursos de minorias e suas tentativas de tomar a República de assalto. Podem nisso concordar liberais e esquerdistas, católicos e espíritas, tricolores e vascaínos: mesmo que seja o último a bradar contra, permanecerei; os super-cidadãos terão que passar por cima.
Felipe Svaluto Paúl(stupid white man, again: a sensatez transcende as conveniências)

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