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sexta-feira, dezembro 26, 2003

CONVENIÊNCIAS IDEOLÓGICAS
Acredito que quase todos os meus estimados e raros leitores se recordam da polêmica gerada por meu artigo “HITLER: DIREITISTA OU ESQUERDISTA?”, publicado ainda no Último Bunker; tais leitores certamente se recordam que minha argumentação intentava não legitimar o Hitler serviçal do grande capital presente nas fantasias marxistas, mas tão somente eliminar a imagem do Hitler vermelho, mera variação de Stalin, que acometia e acomete certas mentes liberais. Expliquei na medida de minhas limitações como essas duas visões consistiam em reducionismos opostos, motivados não por análise histórica isenta mas sim por conveniências ideológicas, pela necessidade de jogar Hitler- disse e repito, símbolo do Mal absoluto para a dita classe esclarecida moderna- no espectro ideológico oposto àquele ao qual se filia o autor do reducionismo. Esses reducionistas, longe de serem encontrados apenas em blogs, partidos políticos ou mesas de bar em avançado horário, ocupam cátedras universitárias privilegiadas, não raro devendo seu prestígio exatamente ao ignorar histórico que cultuam grandemente. Se uma vez ou outra ajudam a gerar luz sobre certo ponto, no mais só fazem nublar as mentes e favorecer ideologias.
Como já de praxe me estendo na introdução para mostrar como esse fenômeno é corriqueiro e atinge setores intelectuais diversos, incluindo muita gente boa- intelectual e moralmente falando. No caso desse meu texto, refiro-me ao artigo do Sr. Olavo de Carvalho intitulado “A GRANDEZA DE JOSEF STALIN”, publicado dia 18 do corrente mês na Folha de São Paulo, artigo este que só conheci há dias através d` O Reacionário.
Cumpre dizer a princípio que Olavo, para quem não sabe, não é historiador. Isso de forma alguma o impede de escrever sobre História, mas lança luz sobre os motivos dele ao produzir o artigo: não o tendo feito por mero diletantismo, por questões profissionais ou por intensa paixão pelo tema, penso que os objetivos foram dois: a) somar mais um fato ao rol de revisionismos históricos difundidos pelo filósofo objetivando demonstrar as articulações de socialistas e comunistas no trato com o poder ao longo da história, invariavelmente mostrando o quão pouco valor dão os vermelhos e similares à moral e como tudo para eles não passa de um projeto de “engenharia histórica” sinistra; b) objetivo menor mas não desconsiderado, demonstrar como o atual governo petista possui vínculos ocultos mas fortes com tal processo, ainda que sob nova tonalidade; esse objetivo é cumprido com não tão sutil ironia no fim do texto, através de exemplo um tanto quanto cifrado.
Para fazer isso Olavo usa exatamente do expediente acima citado: o reducionismo histórico a fim de construir uma meia-verdade que possua CONVENIÊNCIA IDEOLÓGICA, estratégia usual nos meios marxistas e por vezes demonstrada pelo próprio Olavo. Essa estratégia é cumprida com êxito quando soma-se um bom escritor a dados documentais aparentemente incontestes, sendo também interessante a inclinação do leitor pela tese defendida. No caso temos tudo isso: Olavo escreve dignamente, apresenta uma fonte documental cuja checagem é impossível, inviável ou ao menos complexa para a maioria dos leitores e estes são em sua maioria simpaticíssimos ao filósofo e seus textos. Pronto, temos o cenário perfeito para o “reducinismo de direita”, que se faz impediosamente durante o texto que analisarei a partir de agora.
Comecemos pela fonte: o livro citado pelo filósofo é americano, e editado em 95. Isso já inviabiliza o livre-exame do texto pela maioria dos leitores, seja por dificuldades com o idioma, pelo provável preço salgado do mesmo se importado ou até pela impossibilidade de importação dele- por se tratar de uma edição já antiga e voltada para público-alvo restrito, talvez o livro sequer esteja no mercado atualmente, ao menos não no mercado das poucas livrarias brasileiras com serviço de importação decente. Esses fatos obviamente não impedem Olavo de citar a fonte- seria o mesmo que impedir um historiador de citar a HISTÓRIA DO BRASIL do Frei Vicente de Salvador, de 1627. Mas é inegável que a dificuldade de acesso à obra produz duas situações distintas, variando de acordo com o leitor: os poucos leitores antipáticos a Olavo que o lêem verão menor credibilidade no texto, o que não é necessariamente certo; e os muitos leitores simpáticos a Olavo se verão obrigados a crer no escrito pelo filósofo, o que já lhes é conveniente. A fonte, portanto, é inegável auxiliar no processo de criação da CONVENIÊNCIA IDEOLÓGICA, ainda que de forma inevitável.
O texto propriamente dito começa com afirmações fortes que, inegavelmente, contrariam não somente a historiografia marxista, mas quase tudo o que se escreveu sobre Segunda guerra até hoje, em todo o Planeta Terra, oriundo das mais diversas correntes ideológicas. O apresentado no primeiro parágrafo destrói décadas de trabalho de centenas de eminentes historiadores, marxistas, liberais, conservadores e apolíticos. Talvez esteja pensando o leitor: “ ah, só porque esse moleque vai cursar história e se tornar mais um desses intelectuais inúteis ele acha que esses velhos não podem ser contestados! É a História, a Nova Religião, com seus dogmas e sacerdotes!”. Pois bem, o leitor engana-se: Olavo tem todo o direito de questioná-los, como Siegfried Castan também tinha até que a Justiça o privou dele. Mas urge lembrar simples mas correta frase, por mim lida há muito, que diz mais ou menos o seguinte: “ afirmações extraordinárias necessitam de provas extraordinárias”. Exemplo simples: se eu digo que existe certa força que puxa os corpos para o centro da Terra, bastarão alguns exemplos simplórios para comprovar essa afirmação; no máximo serão necessários alguns físicos, dependendo do quão crédulo é o questionador. Mas se digo que tal força é gerada por seres extraterrenos ou mesmo extraplanares denominados Anjos, serão necessárias provas extraordinárias ou essa afirmação só poderá se basear na pura e simples fé. E fé, senhores, é ótima para os templos e em certos casos até para a vida, mas não para o estudo da História. E é exatamente essa fé que movimenta o texto de Olavo, bem como a estranha credulidade de muitos em relação a ele.
Suponhamos que a Segunda Guerra não tenha passado mesmo de um plano muito bem arquitetado por Stalin e seus pares vermelhos, ludibriando todos os ignaros e simplórios homens da suástica, até que o “peão no tabuleiro” de nome Adolf Hitler descobrisse num átimo- será que foram os alienígenas que contaram? ou os demônios?- que era apenas títere do Açougueiro Georgiano e decidisse acertar as contas: por que então Hitler invadiu uma URSS completamente frágil, amplamente despreparada para a guerra, tomando vastidões de terras com rapidez e por pouco, muito pouco mesmo, não venceu o embate? Será que o tão maquiavélico georgiano era também extremamente autoconfiante, e jamais acreditou que sua mirabolante conspiração poderia ser descoberta pelo Adil? Será que Stalin realmente acreditou em um Tratado firmado por um homem que escreveu e falou inúmeras vezes sobre a inferioridade dos povos do Leste, dos absurdos do comunismo e da necessidade de “lebensraum” ao leste para a Alemanha?
Ou será que foi exatamente o contrário? Não há uma possibilidade- vejam bem, senhores: uma mísera possibilidade- de que Olavo e seus documentos russos estejam errados, e dezenas de imparciais historiadores estejam certos?
Não busco aqui desqualificar por completo o que disse Olavo, até por me faltarem meios para isso; na verdade, o que ele disse é uma meia-verdade. Stalin muitas vezes pensou em como seria interessante uma guerra entre as potências democratas ocidentais e a Alemanha nazi, e não há porque duvidar que tenha feito sutis esforços diplomáticos e propagandísticos com essa idéia; de forma similar, inúmeras autoridades das democracias ocidentais viam com bons olhos um conflito Alemanha-Rússia, e também fizeram discretos esforços nesse sentido. Mas tais cenários não passavam de hipóteses dentre tantas outras que vinham à luz no complicado jogo geopolítico que precedeu a guerra; da mesma forma que é ridículo crer que os ocidentais aliaram-se a Stalin tendo por trás de ambos os semitas objetivando destruir a digna e nacionalista Alemanha do Cândido Hitler- para quem não sabe, a tese dos revisionistas do Holocausto- é ridículo crer que Stalin e os seus enganaram algumas das mentes mais brilhantes do século XX bem como milhões de populares e quase perderam uma guerra que eles mesmos criaram. Ambas as teses- até dotadas de certo parentesco, como o leitor deve ter observado- possuem seus ardorosos defensores, seus documentos e suas verdades incompletas, e ambas são completamente desconsideradas por Historiadores sérios e por eles demolidas em parcos minutos.
Fica a versão “oficial” desse capítulo da Segunda guerra, sintetizada: Stalin via sim com bons olhos os embates entre as potências ocidentais, mas não há qualquer prova digna de que ele vinha sutilmente construindo esse cenário há décadas; a invasão da URSS era desejada por Hitler desde antes de sua ascensão ao poder, e não faltam inclusive aqueles historiadores- radicais, concordo- que dizem que a guerra ocidental é que foi um acidente indesejado, sendo o real interesse de Hitler, ao menos a princípio, aniquilar completamente a URSS tão logo tivesse forças para tanto; não há porque crer que Stalin não previa tal invasão, e o pacto Germano-Soviético era considerado por ambos os corpos diplomáticos como mero “ganhar tempo”, a Alemanha para um ataque fulminante e rapidíssimo para o qual não estava preparada e a URSS para tentar organizar uma defesa contra esse previsível ataque.
Em suma, é preciso mais que reducionismos simplórios para demolir a História e transformá-la em títere de discursos de um ou outro; é preciso que levemos a História a sério exatamente para previnir a humanidade desse tipo de discurso fácil, muitas vezes bem intencionado- como creio ter sido no caso- mas inevitavelmente destinado ao limbo das teorias conspiratórias ou a admiração de partidários ignorantes.
Felipe Svaluto Paúl( já preparando o livro “O SINAL DOS CÉUS: COMO ALIENÍGENAS PROVOCARAM A INVASÃO DA URSS POR HITLER”)
PS: Um último adendo sobre “documentos”: a necessidade destes para se fazer história que não mera versão é óbvia e inquestionável; já o uso e a interpretação de documentos, bem como sua autenticidade, devem sempre ser questionados, principalmente quando produzidos por uma ditadura habituada em rescrever a história. Para não fugir muito do tema exemplifico com o livro STÁLIN: UM OUTRO OLHAR, da Editora Revan. Nele o autor- Ludo Martens, comunista empedernido- busca transformar o Açougueiro Georgiano em um ser meramente frio e político, dotado de nobres sentimentos. Para isso ele usa...documentos e mais documentos!!
PS 2: Obviamente este artigo infeliz não faz com que eu perca o apreço por Olavo de Carvalho, cujos artigos n`O GLOBO foram e tem sido fundamentais à minha formação e serviram como inspiração direta a elaboração do Último Bunker. O link para a página do filósofo continua na coluna ao lado e a leitura de seus textos permanece recomendadíssima; só não esperem de mim o servilismo e atitude acrítica cultivados por blogueiros que parecem ver em Olavo um Semideus ou similar.

terça-feira, dezembro 16, 2003

NEW PORT SOUTH
Debatíamos tema completamente diverso, de grande interesse para mim e aparentemente pouco importante para ele, embora estivesse demonstrando bom conhecimento e capacidade de articulação. Em certo momento, fugindo completamente do tema, meu interlocutor afirmou que não considerava cinema uma arte. O comentário, feito a fim de ilustrar e melhor definir sua concepção sobre as diretrizes artísticas de certo governo, pegou-me de surpresa. Fosse um diálogo usual de certo pararia o debate e iniciaria discussão paralela, provavelmente movido por revolta e incompreensão. Afinal, como não gostar de cinema? E como não considerá-lo uma arte??
Vendo-me diante de algo tão ímpar não pude controlar um sem número de reflexões sobre a questão, e uma premente necessidade de externá-la aqui, de jogá-la para meus parcos leitores. Afinal, já pensava por bons minutos sem conseguir achar explicação para aquela singular afirmação.
Perdido em divagações, prejudicado pelo meu quase nulo conhecimento da vida e do comportamento do interlocutor, acabei por achar-me em estado de quase revolta, e por pouco não escrevi aqui maquiavélica tese sobre essa afirmação, sobre seus interesses ocultos, sobre a necessidade de meu interlocutor buscar a excentricidade para se destacar junto a seus pares etc. Em suma, uma besteira de enormes proporções, que felizmente abandonei. E abandonei graças a lembrança de outro indivíduo que também odeia cinema e, não satisfeito, também odeia teatro. Apesar de ter trocado apenas rápidas palavras de saudação com esse senhor, soube através de sua filha do motivo para esse gosto insólito: ele simplesmente achava absurdo e estúpido alguém interpretar vidas que não a sua. Argumento interessante, ainda que certamente não compartilhado por mais que dez pessoas no Globo. Ainda que eu discorde desse senhor, a lembrança me fez ver que esse desprezo pela Sétima Arte não possui necessariamente conotações maquiavélicas nem é mero exotismo daqueles que se querem diferentes. Revi os poucos pré-conceitos que formei sobre meu interlocutor e conclui que minha idéia era no mínimo estúpida, talvez torpe.
Escrevi essa demasiadamente longa introdução para explicar primeiro o motivo do “não-texto” sobre as idéias artísticas de meu interlocutor; e também para explicar o motivo deste texto, resumindo a “carta de intenções” deste novo Bunker. Sendo sucinto, as intenções são as que seguem: percebendo que meu blog anterior focava-se na interpretação da ação revolucionária política direta, decidi que neste novo site vou enveredar por outras searas, mais perigosas e de difícil acesso, mas igualmente importantes para compreender o processo revolucionário como um todo. Refiro-me a ação incessante e fortíssima da Revolução sobre as artes e cultura, ação essa responsável diretamente pelo predomínio das idéias esquerdistas no imaginário ideológico da nação, mesmo naqueles com pouquíssimo acesso a arte e cultura. Esse tema será desenvolvido ao longo de diversos artigos, sempre através da exemplificação. Procurarei analisar nas mais diversas manifestações artísticas não só o caráter revolucionário e as idéias ali embutidas pela esquerda como também os raríssimos exemplares “Contra-revolucionários”, entendendo-se por estes qualquer produção artística que conteste os ideais revolucionários ou afirme os bons valores que identifico com a sociedade que outrora desmorona.
É nesse sentido que escrevo, enfim, sobre a grata surpresa que é o filme NEW PORT SOUTH.
Com roteiro de James Hughes e direção do estreante Kyle Cooper, o filme gira em torno da figura de Maddox, um garoto esquisito do subúrbio de Chicago. O moço, filho de mãe alcoólatra e aparentemente sem pai , não tarda a desenvolver algo bem normal em jovens na sua situação: ódio intenso pelo colégio. Sendo porém jovem inteligente, traveste seu ódio irracional por trás de camadas de discursos fáceis, nos quais se misturam anarquismo, niilismo, revolta pura contra o sistema e presunção do mau-caratismo de todos aqueles que “comandam”, com enfoque especial nos sempre malignos professores. Como podem ver tem-se todos os ingredientes que promoveram rebeliões juvenis ao longo da História, desde a gaivota que Pedrinho atirou na cabeça do Sr.X no interior da Paraíba até a revolta de 68 na França. Essa receita sempre deu certo e dará até o fim dos tempos, pois é feita especificamente para atingir seu público-alvo, jovens indecisos, repletos de conflitos e em processo de formação. Não espanta que cada vez mais tem-se deixado para inocular a juventude com o socialismo mais tarde, preferindo fazer deles no começo apenas anarquistas juvenis sem maiores propósitos que não a baderna; os nada bobos esquerdistas já perceberam como o anarco-niilismo rima muito melhor com juventude que o socialismo propriamente dito.
Mas voltemos ao filme, no qual Maddox pouco a pouco vai angariando adeptos, favorecido por arbitrariedades cometidas pelos professores. Não tarda até que toda a escola se rebele contra sua direção, movida pelos discursos de Maddox- que, numa genial sacada da direção e/ou roteiro, você não ouve. O rapaz discursa nas arquibancadas do ginásio e quem vê o filme não sabe e ao mesmo tempo sabe aquilo que ele está falando, como que mostrando a repetição e a fragilidade do discurso, que mesmo assim obtém sucesso junto aos jovens loucos para extravasar seus problemas. E assim prossegue Maddox, colando cartazes, exibindo um vídeo, coordenando uma fuga de todos os alunos do colégio. Ele supostamente atua sob as diretrizes de Stanton, um ex-aluno do colégio que fugiu de um manicômio junto com outros jovens. Stanton passa a ser o mártir, o herói de Maddox, e as duas cenas em que se ouve a suposta voz dele detalhando a estratégia a ser seguida por Maddox são especialmente interessantes, capazes de gerar risos nervosos no espectador estudioso da Revolução, por mostrar de forma absolutamente fidedigna a estratégia aplicada a torto e direito mundo afora. E com sucesso, repito.
Mas qual será o fim disso tudo? O crescente de violência e desrespeito contra o colégio jamais cessará? Onde estão diretores e professores nesse contexto? É aí que aparece outra das grandes sacadas do filme.
Diretor e professores, ainda que tendo vivido caso semelhante( o caso Stanton) não sabem o que fazer, estão completamente perdidos, buscando resolver o problema através de medidas claramente paliativas- o esforço do jovem da administração em retirar os cartazes, mesmo sabendo que outros aparecerão de imediato, é ilustração perfeita. Tem-se então um grupo de autoridades que preferem o “diálogo” e não enfrentam a clara afronta a autoridade que o movimento rebelde apresenta. Consegue o meu leitor encontrar paralelos, no Brasil e no mundo, ontem e hoje? Claro que sim.
Como finda o filme?, deve estar perguntando o leitor. Revelo não para estragar a surpresa, mas sim por ser o óbvio dada minha exaltação do filme: Maddox perde. Essa parte em si foi possivelmente mal-construída no roteiro- prejudicada também pelas péssimas interpretações, como o filme todo. A derrota de Maddox soa um tanto quanto anárquica, pouco provável, dada em uma situação de total descontrole dos professores e motivada por estúpido erro tático do até então perfeito estrategista que se revelava por trás do jovem sem causa. Mas talvez tenha sido exatamente essa a intenção: demonstrar como todo aquele poder de Maddox na verdade era extremamente frágil, que os jovens buscam apenas um caminho a seguir e basta que lhes seja apontado com inteligência e correção o caminho da ordem- o que os professores sem tato não faziam- e eles o seguirão. Cumpre notar também que o fim de Maddox começa com a atitude de um único jovem, certamente o mais frágil e manipulável de todos, mas que se mostrou o mais forte no final.
Cito por alto três outros personagens importantes que o leitor poderá analisar por si mesmo: o professor de arte, claro esquerdista indeciso; o professor de História, possível “republicano”, único a compreender parcialmente a anarquia e combatê-la; e o jovem administrador, dividido entre a ordem e a rebelião de seus pares.
Findo aqui. Aconselho a todos os leitores a assistirem o filme, resistindo com bravura aos péssimos atores e analisando cena por cena com atenção, pois não se trata de mero teen movie- ainda que, felizmente, o seja. Pergunta última, e nada retórica, que me fiz após ver o filme e ainda me faço: quantos jovens realmente compreenderam o teor da película? E ainda: quantos adultos?
Felipe Svaluto Paúl(cinema é arte, tão refém do esquerdismo quanto as demais)

quinta-feira, dezembro 11, 2003

NÃO PODEMOS TROCAR PRINCÍPIOS POR PRODUTOS
Ora,a visita a ditaduras medievas objetivando a "ampliação do comércio" não é exatamente a concretização dessa troca? Ou não é a democracia princípio deste governo ou o Amorim explicitou como nunca a nefanda retórica terceiro-mundista que hoje domina nossas relações exteriores- e é ovacionada pela mídia para-oficial.
Ou ainda, até mui provavelmente, trata-se do estranho híbrido destas duas coisas; híbrido dos dois únicos reais princípios que nos governam: a incompetência e a insensatez.
Felipe Svaluto Paúl(rejeitado pelos alienígenas)

terça-feira, dezembro 09, 2003

CONSPIRAÇÕES
Que presente natalino seria o ideal neste ano que finda? Talvez o leitor já se tenha pego meditando sobre isso neste dia, ou ao menos nessa semana. Se ainda não o fez temo pela ventura de seus presenteados: lembremos que o tempo continua urgindo apesar do tom anacrônico e monocromático que se abate sobre a pátria gentil, e as vagas de tolos eleitores já corre às Americanas e afins.
Mas você fugirá a isso, não é mesmo? Leitor meu é ser ímpar, destoante, não-gregário. Provavelmente encomendará seus presentes no doce lar, fugindo das filas e dos comentários da plebe rude sobre o calor dantesco e os kafkianos processos para pagamentos em cartão ou consórcio. Falta porém um detalhe: o que comprar?
Se fosse espécie de auto-presente, seria simples. Bastaria deslocar-se ao Instituto Liberal mais próximo de sua casa e comprar algo de economistas obscurecidos pelo Satanista Alemão. Poderia ainda o leitor presentear-se com a coleção de Clássicos Liberais da Topbooks ou, extravagância-mor, comprar todos os exemplares lançados do Curso de Filosofia do querido filósofo sem diploma.
O problema é que o presente não é para você. É para o primo analista de sistemas, possuidor de salário e tristeza imensuráveis, proprietário de toda a tecnologia concebível- sem apelar para os delírios lisérgicos de Dick, que ele não conhece- e leitor apenas de livros técnicos e “motivacionais”. O que dar para um ser desses?
Façamos retrospectiva biográfica e concluamos: esse ser não é tão estranho assim. Antes de ser o atual geek, era apenas um nerd- lá pelos idos de 80. E como todos os seus, o que o interessava? Lado escuro da Força, venusianos, nanotecnologia, cyberpunk, futuro decadentista...notam a gradação? Não há quase dúvida que a soma destes interesses o tenha levado, pelo menos por algum tempo, ao fantástico mundo que tanto me apetece: o das TEORIAS DE CONSPIRAÇÃO.
Não, não me refiro ao filme bizarro de Gibson, nem mesmo ao Arquivo X- como todo bom teórico da conspiração sabe, esses produtos culturais de massa fazem apenas parte da estratégia de desinformação. Refiro-me coisas sérias, do porte de um ET de Varginha ou do temível festival americano do Burning Man. O que? Não conhece o Burning Man? Não sabe que o ET de Varginha está escondido nos subterrâneos da UNICAMP? Pois é hora de libertar-se desses grilhões. Esqueça o PT e Mises por um tempo e mergulhe em CONSPIRAÇÕES, de Edson Aran(Geração Editorial).
CONSPIRAÇÕES não é livro profundo. Pelo contrário, é extremamente conciso e didático, escrito em linguagem leve e extremamente coloquial. Não busca aprofundar-se nos temas, mas sim fazer um apanhado das principais teorias de conspiração existentes(?) mundo afora- sem esquecer das mui particulares produzidas nestas plagas, incluindo aí o emocionante caso PC e o estranho conluio nike-França-Brasil na atípica final na Copa de 98. Estes temas aparentemente( só aparentemente) bobos disputam espaço com o clássico dos clássicos- morte de Kennedy, óbvio: quase uma dezena de grupos envolvidos, com no mínimo duas “cortinas de fumaça”- e coisas mais obscuras, como a misteriosa Dinastia Merovíngia- teoria herética que vai ultrajar certos conservadores católicos...
Não, Aran não leva nada do que pesquisou a sério. Ou será que leva? O livro é escrito em tom de franca piada, como aliás era quase inevitável: a maior parte das teorias é completamente absurda e muitas só podem ser encaradas como devaneios de mentes completamente insanas ou babaquices tipicamente americanas. Mas não devemos nos esquecer de um dos Mandamentos dos teóricos da conspiração: a conspiração mais absurda é provavelmente a única que faz sentido.
Em suma, é livro para divertir e, dependendo do seu grau de credulidade, fazer pensar. Não deixa de ter informações interessantes sobre fatos reais da História recente ou antiga e uma ou outra conspiração merece ao menos uma análise mais profunda- pena que o caso Kennedy, principal exemplar desse grupo, não tenha recebido o tratamento que merecia.
CONSPIRAÇÕES, de Edson Aran: presente de Natal perfeito para seu primo, seu tio e até mesmo para você, sério intelectual liberal. Compre antes que misteriosos homens trajando preto o façam “esgotar” das livrarias.
***
Terminada a resenha, fica a pergunta: por que Aran teria nos revelado tudo isso? Seria só um clássico exemplo da desinformação? Seria apenas uma tentativa de banalizar e tornar cômicos temas tão sérios, a fim de desviar a atenção das massas? Seria por isso que o livro tem estilo tão comercial? Ou seria Aran realmente um herói, homem que a essa hora já deve ter pago com a vida( e talvez a alma) o preço da Real Revelação?
Confesso que não sei, mas não vou ficar me perguntando isso. Aproveitando o momento propício, correrei o risco máximo: revelarei aos senhores sucintamente dois pontos de uma imensa conspiração que acomete nossa pátria. Cumpre-me esclarecer ao leitor que ao passar deste parágrafo adentrará em obscuro mundo, de Verdades Reveladas, da desconstrução de mitos e no qual a única lei é a máxima do agente Mulder: não confie em ninguém. Nem nesse que te escreve.
OLAVO DE CARVALHO E O DISCORDIALISMO- Acredito que todos os senhores conhecem o filósofo Olavo de Carvalho. Àqueles que não conhecem, breve introdução: esse senhor diz-se filósofo, e escreve artigos para os principais jornais do país. Dedica-se com especial afinco a análise daquilo que ele chama de “cultura marxista”, que segundo seus pareceres já estaria enraizada na alma do intelectual brazuca e do próprio povo ignaro de nosso país. Estaríamos portanto diante de uma lenta mas inexorável inclinação para o socialismo, que vai radicalizar-se cada vez mais até que não passemos de uma Cuba supernutrida. Esse fenômeno, pelo seu caráter essencialmente cultural e não político-econômico, é de difícil reversão. Apesar disso já se começa a formar considerável oposição, notadamente no terreno da rede mundial de computadores; jovens influenciados pelas idéias de Olavo as retransmitem em seus blogs, com uma ou outra ligeira variação e cinco ou seis palavras diferentes. Esse grupo de cavalheiros- e raras moçoilas- não possui unidade aparente, mas já há analistas que os chamam de REDE LIBERAL, não por acaso o segundo ponto a ser analisado hoje. Mas voltemos a Olavo.
O leitor que desconhece o filosofo já deve ter suas conclusões sobre a óbvia conspiração: Olavão, completamente pirado e ressentido por não ter conseguido se inserir no complicado jogo de egos das Academias, decidiu prosperar de outra forma. Pensou: “ por que ser igual a todos? Se já há tantos marxistas a dizer as mesmas coisas, não seria interessante haver voz dissonante? Será que não há um público, ainda que restrito, ávido por ouvir discurso liberal?” Baseado nessa evidente lógica capitalista, Olavão pôs-se a estudar como combater aquilo que outrora defendia. Não tardou a obter êxito devido a sua notável capacidade de polemista aliada a um profundo conhecimento do modus operandi de seus inimigos, outrora aliados. Hoje Olavão conseguiu seu intento: é reconhecido nas ruas de Botafogo, distribui autógrafos na porta do Instituto Liberal e faz um belo caixa com seus cursos de filosofia. Pronto. Algo sem maiores interesses que não materiais e ególatras, sem planos de dominação mundial ou algo que o valha. Mas será realmente isso?
Na verdade essa é apenas meia verdade. Preparem-se admiradores do articulista para a revelação bombástica: Olavão é um agente discordialista!!
Pois é, pois é. Agente discordialista. Não sabe o que é isso? Bem, os discordialistas têm apenas um compromisso: o caos absoluto, a anarquia total, a mais completa subversão de costumas e da moral. E como trabalham para tanto? As táticas são as mais diversas: criam conspirações, pixam muros com dizeres absurdos( alguém pensou em “só jesus expulsa os demônios das pessoas?”), criam lutas intestinas em organizações sérias...
Mas qual seria o papel do Olavão afinal?
Simples: o filósofo faz parte de intrincada trama dos discordialistas para instaurar o caos absoluto no Brasil através de uma guerra civil. Nesse sentido eles atuam em duas frentes, uma atuante já há muito e outra agora em franco crescimento. A primeira tem como seus participantes entidades como o PT, o MST, a CUT, a maioria das ONGs, a ONU e a Europa. A segunda conta em seu staff com Olavão, a CIA, o MOSSAD e a REDE LIBERAL. O projeto, até agora cumprido com pleno êxito, consiste em criar uma enorme tensão ideológica no cenário políto-cultural brasileiro, normalmente vitimado apenas por fisológicos, demagogos e demais seres de estreita visão. Essa tensão começou a ser criada após o fim da ditadura, quando todas as esferas da vida nacional foram tomadas de assalto pela esquerda ensandecida, em seus diversos matizes. Essa dominação fez-se inconteste até bem pouco, objetivando criar enorme sentimento belicista e revanchista em certo segmento da sociedade. Jovens de classe média, letrados, por uma série de fatores imunes ao germe esquerdista, sentiam-se completamente perdidos e desamparados, sem observar sequer a clássica luz no fim do túnel. Viam seu país rumar para o inferno vermelho e nem mesmo os clérigos acenavam com a promessa da salvação. Continuavam então com suas vidas, trabalhando e constituindo inocentes famílias, participando de peladas, reunião de condomínio e demais afazeres do homem moderno. Havia porém no fundo daquelas torturadas almas o desejo refreado mas não abandonado da revolta. Faltava-lhes apenas um guia, alguém para apontar caminhos, soluções. Eis que retorna de auto-exílio europeu ele, o guru, o messias: Olavão.
Êxtase, delírio, experiências fora do corpo: estamos salvos! Olavão vem trazendo a boa nova e promoverá nosso contra-ataque fulminante! Não restará qualquer tom de vermelho após a triunfante vitória dos totalitários liberais!
E arma-se o circo. Pouco a pouco começam a surgir blogs na rede, a princípio timidamente, logo em números de dois dígitos. A reação ainda não ultrapassou muito estes patamares, mas não se iluda. Foram necessárias duas décadas para a organização dos esquerdistas, e outras duas serão necessárias para a organização direitista. Enquanto isso os PTistas e afins continuarão a nos ultrajar com suas sandices, gerando mais e mais soldados para ou outro lado. Em vinte ou trinta anos, a guerra inevitável. Irmão contra irmão, filho contra pai. E Olavão e Marilena Chauí beberão vodka sentados sobre os corpos que perecem.
REDE LIBERAL- Se há grupo que contribuirá em muito para o nefando quadro acima descrito, esse grupo é a Rede Liberal. Aparentemente diversificada e nada coesa, repleta de disputas internas e camarilhas, essa rede aparentemente anárquica é na verdade a grande retransmissora da ideologia olavista na pátria-mãe, sendo portanto a ponta de lança do caos, gerando revolta e indignação na pacata e obtusa classe média brasileira.
Faz-se necessária uma ressalva, porém. Nem todos os integrantes dessa rede estão comprometidos com os mesmos ideais. Existem aqueles chamados inocentes úteis, que realmente acreditam no Olavão e crêem estar cumprindo seu papel na Cruzada- dentre estes incluo infelizmente os amigos MÁRCIO GAMA e CARLOS GUILHERME, dignos senhores que perecerão no confronto final e servirão de assento para Olavão; há também aqueles que se aproveitam do projeto discordialista para auferir ganhos a suas próprias instituições conspiratórias, objetivando que estas possam assumir o poder quando reinar o caos absoluto. Dentre estes listo ANDRÉ DE OLIVEIRA e JÚLIO LEMOS, braços do VATICANO na conspiração; VICTOR GRINBAUM, aparentemente apenas um agente do MOSSAD, mas na verdade perigoso membro do PRIORATO DE SIÃO; CLÁUDIO TELLEZ, agindo a serviço da AMORC; e por último e menos importante, GARCIA ROTHBARD, que não esconde a quem perguntar suas ligações com a CIA.
E eu? Afinal, também faço parte dessa rede liberal, não?
Poderia apenas dizer que nada tenho a ver com essa intrincada trama, sendo apenas alguém que infelizmente sabe em demasia e que não deve viver uma noite sequer após a publicação deste texto. Não vou fazê-lo, porém. Imbuído que estou do espírito natalino e valores correlatos, serei sincero e vos digo: VICTOR GRINBAUM, graças a sua imensa capacidade de analisar subconscientes e mensagens subliminares, descobriu a verdade: sou eu perigoso e crudelíssimo nazista; ser amoral, pérfido, vil e torpe. E como todos de minha ariana laia, admito fazer parte das seguintes conspirações: terra oca, terra invertida, nazi-satanismo, nazi-alienígenas, agartha, revisionismo do Holocausto e grupos de pagode- além, claro, da sociedade O NETO DO VOVÔ, grupo que acredita ser eu o lendário neto de Hitler, responsável pelo início do Apocalipse em 2012, último ano do calendário maia.
Meu conselho? Integre-se o quanto antes a uma das sociedades conspiratórias e tente levá-la ao sucesso nessa emocionante corrida pelo controle da humanidade; ou apenas continue vivendo enquanto pode...
Felipe Svaluto Paúl(sobrevivente de abdução alienígena)

quarta-feira, dezembro 03, 2003

SOMENTE TESTE

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