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quarta-feira, março 16, 2005

SEVERINO, NIVALDO E CERTA DIREITA
Confesso que fiquei apreensivo a esperar que reações teriam os próceres da ressureta direita nativa por ocasião da eleição de senhor Severino Cavalcanti para a Presidência da Câmara. Refleti um pouco e conclui: o trágico episódio se revelará um belo teste; veremos enfim do que são feitos aqueles que a mim se irmanam, ao menos em tese, como companheiros de luta.
Procuro aqui e ali, visito os sites e blogs costumeiros, e o que se vê é um silêncio sepulcral. Nada de artigos, nada de curtos posts, nem mesmo frases de comemoração. Penso que a direita resolveu ignorar o assunto, fingir que não era com ela e prosseguir escrevendo o óbvio de sempre –aliás, parêntese: o governo Molusco é a glória de certa direita que consegue ser tão sábia quanto o ser aquático; crescem na mediocridade dele, mostrando que o um engrandece tanto os zeros que o combatem como aqueles que a ele se juntam. Mas eis que o silêncio se revela o predecessor da tragédia anunciada, como se por um momento a realidade tivesse se rendido ao maior clichê do gênero horrorífico: das sombras irrompe a criatura, exibe o típico e aterrador riso e tece as loas ao grande monstro.
Nivaldo Cordeiro. Que esperar de Nivaldo Cordeiro? Não é um zero engrandecido, é fato. Dizem boas línguas que é muito competente em seu ofício, o ensino de economia. Faz umas análises cinematográficas algo singulares, é verdade. Mas fosse só isso e seria apenas alguém que escolheu o hobby errado. É porém só isso o sr.Nivaldo? Não, sr.Nivaldo se notabiliza por algo maior, ou ao menos que ele crê ser muito maior: Nivaldo é um paladino de certa civilização judaico-cristã ocidental. Que é tal civilização? Não lembro de Nivaldo tê-la definido, ou mesmo Osama ou o Casseta e Planeta. O fato é que Osama não precisa definir, pelo contrário- funciona para ele exatamente como um clichê, a motivar o ódio de seus sequazes a tudo quanto é “ocidental”, democracia, laicismo, livre mercado, liberdade. Para o Casseta funciona como piada. E para Nivaldo? Serve também para arregimentar os direitistas? Ou serve também como piada? Falar sobre tal conceito- ou clichê, ou palavras de ordem- , a “civilização judaico-cristã”, demandaria artigos outros. Por ora saibam que Nivaldo a defende, e Osama a ataca- isso já é suficientemente explicativo: é a única forma de explicar a justificação, minimização e relativização feitas por Nivaldo do horror que o fato de sr. Severino Cavalcanti ter chegado onde chegou.
Comecemos pelo óbvio: senhor Severino Cavalcanti é um ignorante. Sim, um ignorante- e se há algo aqui de pejorativo, há antes algo de técnico. Ser um ignorante é ignorar: eu ignoro mesmo os rudimentos mais simplórios da Física, posto que sempre odiei tal matéria, reconhecendo porém sua importância. Outros ignoram inteiramente o cenário político, conhecimento ao qual dou enorme atenção. Há os que ignoram mesmo as primeiras letras e o normalmente ato corriqueiro de ler. E senhor Severino? Senhor Severino ignora tudo, a despeito- espera-se!- de uma alfabetização precária. Isso é de obviedade tão impressionante que nem mesmo Nivaldo poderia ignorá-lo. Que faz então para reabilitar o monstro? Recorre a comparação, artifício que mui toscamente vem se estabelecendo na direita nacional. Forças militares americanas torturaram e humilharam no Iraque? Bah, os comunas fazem muito pior na ilha-cárcere de Fidel! Bush aumenta o Estado americano como poucos? Olhe para o outro lado, aumentam os gastos governamentais sob o governo Molusco! Severino é um ignaro de quatro costados? Sem problema, Nivaldo faz a ginástica que nos outros acusa- “falar mal de Severino é falar ainda pior do Lula-lá”, nos diz o paladino. E minimizar a simploriedade e incapacidade de Severino, não seria minimizar também a de Lula-lá? Se Lula presidente é enorme tragédia para a República por ser um boçal quase sem concorrentes- como disseram e dizem inúmeras vezes Nivaldo, companheiros de MSM e direitistas outros- não seria o mesmo com Severino? Por que não dizê-lo então, claramente, ao invés de tentar mostrar que Severino é menos ignorante que Molusco- será?- ou que os colunistas que chamam Severino de ignaro não fazem o mesmo com Lula? Não, Nivaldo não pode fazê-lo. É preciso inverter o discurso dos colunistas, reforçar a ignorância de Molusco como forma de perdoar o Severino. E por que? Por que Severino é parceiro na luta pela “civilização judaico-cristã”.
“E gosto também das convicções morais” do novo presidente”, nos diz Nivaldo. Sim, as convicções morais. Alguém de fato crê que Severino as tenha? Alguém de fato crê que um indivíduo que tenciona aumentar salários e regalias de parlamentares, alguém que faz disso sua bandeira, alguém de notório saber no jogo do “toma-lá-dá-cá” que tanto envergonha a República, alguém que assumiu há pouco abertamente ter “livrado” alguns coleguinhas de acusações criminais e similares é portador de qualquer espécie de convicção moral? Ah, mas Severino visitou o Papa. Severino é contra a união civil de homossexuais. Logo, ignoremos as pequenas falhas do senhorzinho! Lembro-me bem de artigo de Olavo no qual esse elogiou Agamenon- para quem não sabe, colunista fictício d`O GLOBO, criação de dois Cassetas- dizendo que por vezes os Bobos são os únicos a enxergar e revelar os podres da Corte. Pois bem, recorramos ao Bobo: em coluna recente Agamenon nos brindou com talvez a pérola definitiva sobre as “convicções morais” de Severino, dizendo ser o digníssimo um legítimo representante de nossos valores tradicionais: o “toma-lá-da-cá”, o “meu pirão primeiro”, a compra de cargos etc. Mas isso não parece incomodar Nivaldo- que seja ladrão, mas que seja dos nossos!, é o que se parece ler nas entrelinhas do texto do Cordeiro de deus.
Mas e a comparação Felipe? A comparação é a grande arma da direita nacional! Severino não é uma maravilha, mas os “leninistas”...ah, esses são muito piores. É como dizer: é melhor que nos roubem que nos exterminem. É melhor o czar que a revolução. Não Nivaldo, não é melhor. E por que? Porque não há como estabelecer comparação desigual entre duas coisas iguais. As oligarquias não se aliaram ao PT com rapidez e presteza à toa- elas se aliaram pela semelhança máxima e profunda: as oligarquias querem o Estado, o PT quer o Estado. Severino quer o Estado, como Greenhalgh o queria. O primeiro o quer para se aproveitar e, vá lá, impedir a união civil homossexual. O segundo o quer para se aproveitar igualmente e, vá lá, proibir o porte de armas. É essa a escolha que nos resta? O velho patrimonialismo ou o novo patrimonialismo? Devemos brigar pelo Estado, nos envolver nas disputas e defesas daqueles que querem o Estado, ou devemos nos bater pela redução máxima do Estado, talvez pelo fim mesmo desse ente? A direita renasce para ser isso, um joguete nas mãos dos estatistas vários?
Mas é a conjuntura Felipe, dirá algum defensor de Nivaldo. O articulista escolheu o mal menor, com enorme dor no coração, sabendo que escolhe um mal terrível! Se assim o foi obrigo-me a dizer que o artigo foi pessimamente escrito, pois de forma alguma espécie de dor se faz presente ali. Sim, o texto é ambíguo, os tons são diversos- outra peculiaridade de certo estilo da nascente direita; fica claro, sim, que Nivaldo não é fã de Severino. Mas também parece que não tem aversão ao monstro, muito menos que estaria disposto a combatê-lo. Talvez a ambigüidade não seja estratégica, mas sim o reflexo da ambigüidade do próprio Nivaldo, ou mesmo dessa própria nascente direita- debate-se entre apoiar o atraso e lutar pelo progresso. Talvez não. Talvez Nivaldo tenha fechado mesmo com o atraso- nesse caso é apenas a contraparte mais esclarecida de Severino, e os dois se merecem. Quem não os merece é a direita brasileira.
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Atualizações várias na lista de links, com destaque para o blog coletivo Os Progressistas, com o qual contribuo. Maiores esclarecimentos sobre as intenções do blog estarão em home page a ser produzida, e também em futuros artigos publicados. Por ora aproveito o ensejo do texto acima e coloco a função máxima do blog: combater os reacionarismos, da esquerda tanto quanto da direita.
Felipe Svaluto Paúl(porque direita é progresso)

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