quinta-feira, janeiro 13, 2005
RETROSPECTIVA UFF(3)
E agora dou início ao fim. Após alguns momentos de reflexões espalhados pelos primeiros dias de férias, meditações sobre como criticar sem ser injusto alguns dos singularíssimos personagens que saltarão- e nada de metáfora, logo cuidado leitor- em breve por aqui, decido escrever enfim a última parte das memórias acerca de meu primeiro ano na UFF. O tom ainda não está certo, e certamente será variável ao longo do texto. De toda forma sairá basicamente como me veio de imediato a mente; prometo evitar injustiças em prol do estilo tanto quanto em prol da "boa convivência" com os pares da Corporação.
Começo com a inesquecível, infame, inócua e inútil matéria de nome Geohistória, assim mesmo, em gradação alfabética. A matéria nos foi dada por Rogério Haesbaert, e muito me orgulho caso tenha errado seu sobrenome. O ser não é má pessoa, a despeito de reclamações várias e típicas de alunos em relação a possíveis injustiças em correções de trabalhos; o problema é que sua matéria é algo absolutamente detestável, mais ainda quando feita em caráter obrigatório, pois inexplicavelmente consta do ciclo básico. Sem tentar chateá-los como forma de compensar a chateação vivida no semestre passado defino rapidamente a pretensão da matéria: articular conceitos históricos e geográficos na compreensão de determinada realidade/fenômeno. Bonitinho não? Lembra a interdisciplinaridade tão em voga. Mas fora análises de dois textos acerca de Braudel- pai-fundador da Geohistória, até hoje não sei se assumido ou não- tudo o mais que vimos foram conceitos de geografia, absolutamente variáveis segundo autor e carentes de qualquer aplicabilidade demonstrada; não foi feito um esforço sequer para demonstrar como esses conceitos podem ser utilizados em pesquisa histórica, apresentando para nós textos de historiadores com abordagem ao menos próxima da geohistória. O maior esforço nesse sentido foi feito pelos próprios alunos em Seminário que encerrou o curso, muito mais como forma de ganhar os pontos necessários que em busca de real aplicabilidade conceitual.
E essa foi a parte, por assim dizer, séria do curso. Houve também o involuntário humor que grassa em nossa universidade, pois Rogério destinava o início de algumas aulas a comentar notícias a princípio vinculadas com "temática da aula", rapidamente tornando-se tão e somente momentos para o professor destilar sua aversão a George W. Bush, com todos os chavões possíveis a um esquerdista blasé como ele não tardou a se evidenciar. Acresce-se a isso um dia trágico no qual "fomos a campo", ou seja atravessamos a rua e ficamos, dezenas de seres, postados em frente à Baía da Guanabara discutindo territórios-rede/territórios-zona; houve ainda a comicidade constante do semestre, produzida pelas intervenções de cidadão que em breve se chacoalhará por aqui.
Para amenizar falo rapidamente do curso de Mário Grynspan, já citado no primeiro artigo da série e exatamente nos mesmos termos que uso agora: o curso foi bom, tivemos uma boa visão das principais correntes da historiografia, bem como as mudanças enfrentadas pelos grandes eixos temáticos nos últimos tempos. Poderia porém ter sido ótimo curso caso o professor tivesse maior compromisso com o horário, defeito crônico de Mário já apontado no primeiro texto- em parte compensado por qualidade até agora singular, sendo ele professor que não apenas se crê engraçado- como todos os outros- mas é realmente capaz de excelentes piadas, o que descontraí o ambiente e não nos obriga a fingir risos como em outros cursos.
Ainda em relação a positividades do semestre cito aqui o curso de História Moderna, de Ronald Raminelli. A princípio tive reservas significativas em relação ao curso, devido ao método algo esquemático do professor em relação às aulas- tópicos postos no quadro, leitura de texto previamente escrito por ele seguindo os tópicos. Rapidamente mudei minha opinião, verificando que esse método permitia uma real objetividade na aula, sem que discussões inócuas fossem levantadas- salvo nas intervenções do ser chacoalhante, que em breve surge- e permitindo, pasmem os que me conhecem, que eu redigisse por vezes mais de uma folha por aula com as informações de Raminelli, que além de tudo ainda se mostrou prestativo na resposta a dúvidas minhas e elaborou um bom sistema de avaliação no qual cada aluno leu pelo menos capítulo de livro clássico sobre História Moderna. Enfim o melhor curso do semestre, compondo com Sociologia e História Medieval a tríade de melhores do ano.
Curso de Brasil 1, Fernanda Bicalho. A despeito da solicitação do amigo Roberto, quase tão fã de Bicalho quanto ser chacoalhante, aqui a crítica precisa ser feita e até incisivamente. Senhora Bicalho conseguiu raridade em turma tão repleta de singularidades e diferenças entre os indivíduos como a nossa: a quase unanimidade no que tange ao descaso, aversão ou mesmo em alguns momentos de fúria ódio pela pessoa dela. E aqui coloco novamente que não, ela não é pessoa má, nenhuma perfídia cometeu com a turma- ainda que tenha feito, no linguajar adolescente minimamente educado, algumas "sacanagens" consideráveis. Digamos que o curso começou até interessante, apesar das aulas não acrescerem absolutamente nada ao texto- defeito que parece existir em 9 entre 10 cursos na UFF, que chamo de "síndrome de discussão de texto" e detalharei mais adiante analisando América 1. Os problemas começaram a surgir quando, somadas às faltas constantes de muitos seres de- argh, ugh, eca- Arquivologia começaram também os componentes de minha turma a faltarem, em parte devido a legítima compreensão do quão inócuas eram as aulas ministradas e em outro tanto devido a quantidade e complexidade dos trabalhos diversos que outros cursos nos solicitavam. Aí a digna e altiva Bicalho não se fez de rogada e, descendo do púlpito da Corporação deu início a série de chiliques que passaram a dar o tom do curso. Todos a haviam abandonado, achavam que iam levar o curso na moleza, mas não iam não!, ela dizia com olhar algo ensandecido. Eis então que decide começar a fazer chamadas, prática que logo acabou por abandonar sem maiores explicações. Depois de mudar um trabalho em grupo para prova, vem a gota d’água: só poderão fazer a prova em casa aqueles que se fizerem presentes na última aula para pegar as questões. Vejam bem a lógica aqui empregada no período pós-chiliques: acreditando que a turma não mais se interessava pelas aulas dela a sra.Bicalho não procurou conversar com a turma, saber motivos das faltas, o porquê do desinteresse: não, decidiu simplesmente obrigar os alunos a freqüentarem as aulas, o que talvez acreditasse que aumentaria em algo o interesse dos alunos e sua compreensão da matéria. E ao fazê-lo, e ao fazê-lo senhores, ela ainda o fez mal, aliás pessimamente! No dia da entrega das provas não só estavam ali alunos que assistiram APENAS, digo TÃO E SOMENTE a última aula dela, a necessária para pegar as questões da prova, logo não ouviram chilique algum no qual estávamos levando a culpa por eles, bem como seres que NUNCA haviam assistido a UMA AULA SEQUER da distinta sra.Bicalho, nem mesmo a última. E é nesse belo clima de revolta, tendo eu acordado cedo em período de semi-férias, que ser chacoalhante profere sem interlocutor definido: " ah eu adoooro a Fernanda, se não fosse ela eu não estaria aqui hoje", e se torna impossível uma contenção de minha parte: "aí sim, aí eu concordo plenamente...se não fosse por Bicalho nenhum de nós estaria aqui hoje!". Todos riram mas ser chacoalhante não se fez de rogado e horas depois chacoalhava, diante de Bicalho e de toda a turma, por ocasião de entrega de prova sua.
Antes de falar acerca de América 1 abro espaço então para comentar sobre ser chacoalhante, também conhecido por apelidos menos simpáticos. O distinto ser integrou-se a nossa turma no segundo semestre, vindo do turno da Noite. A princípio parecia só um tipo relativamente habitual no curso de História, bastante devotado ao curso e com características algo peculiares de trejeitos e deslocamento. Mas logo o monstro emerge das profundezas: o ser mostrou-se de longe a figura mais nefanda com a qual até então interagi, pouco felizmente, no corpo discente. Perguntas ininterruptas em sala de aula são chatas, mas é um direito inalienável do aluno. Comentários inteiramente inoportunos, normalmente apenas para frisar ou mesmo reproduzir com outras palavras o dito pelo professor, no mais das vezes interrompendo o próprio...é ridículo, absurdamente ridículo quando feitos sistematicamente, quase uma dezena de vezes em uma aula de duas horas. Somado a isso o puxa-saquismo- só a linguagem da massa contempla o caso, bajulador é bom demais para ele- explícito e desavergonhado do moçoilo me geraram antipatia absoluta, felizmente não só em mim como em muitos da turma. Ele porém esbanjava simpatia, sempre conversando alegremente com todos, a saltitar e sorrir sem cessar, como que feliz por importunar e atrapalhar todo nosso processo de aprendizado, com comentários os mais estúpidos que ele crê, talvez, terem alguma pertinência. Em breve os senhores poderão vê-lo no carnaval, salvo engano na Viradouro, envergando fantasia absolutamente adequada.
Pois bem chego agora a América 1, curso de Fátima Gouveia. O curso não foi ruim, a professora não é ruim, mas é talvez o exemplo máximo da "síndrome de discussão de texto": para Fátima o curso se resume a textos passados e discussão em sala, discussão intensa, a tomar horas e horas giradas em torno de meia dúzia de questões. Se houve textos nos quais isso era pertinente, em muitos não o era, e só a dita "síndrome" explicava a necessidade de se construir uma discussão que não existia, tornando a aula maçante e não acrescendo nada ao que havíamos lido em casa. Fosse só isso tudo bem, a professora Fátima sairia até bem positiva em meu conceito, mas eis que veio o último dia do Seminário por ela organizado, episódio que mereceria um artigo à parte aqui. Como o texto já se estende em demasia tentarei a sempre difícil brevidade.
Pulando a apresentação de meu grupo no seminário, digna de elogios vários e agraciada com nota 10 pela professora; pulando a absolutamente inoportuna colocação de Thiago Krause, que só por ser pessoa das mais próximas na UFF eu não considerei como "sacanagem" juvenil das grandes; pulando os longos minutos de conversa com Krause e José Ernesto no corredor...adentro a apresentação de chacoalhante e os seus, nem tão surpreendido por sambinha de cuja ocorrência ali eu já era conhecedor. Eis porém que percebo que houve um conflito anterior entre chacoalhante e Fátima, ela havia interrompido o seminário e os dois ficaram a discutir um pouco, com chacoalhante sendo o mais ríspido que já vi em uma relação aluno-professor. Eis que com custo o seminário acaba e os dois voltam a discutir, chacoalhante mantendo o mesmo tom de empáfia e agressividade com Fátima, que por sua vez segurou as pontas até a sublevação das massas. Que sublevação? Pessoas que se consideravam prejudicadas pela avaliação começaram a tomar as dores de chacoalhante, pessoas sérias até, cujo mérito da reclamação nem posso julgar pois não assisti a apresentação delas. O fato é que Fátima se viu enredada em situação hostil e começou a aceitar qualquer coisa dita, mandando às favas sua avaliação anterior e chegando ao ponto de aumentar pontos para um grupo a partir de brincadeira de aluno e, sem mais, aumentar pontos para o grupo de chacoalhante, como que a equiparar duas apresentações ruins, sem critério objetivo algum! A professora mostrou ali fraqueza, saindo quase às lágrimas de sala; e chacoalhante, bem, chacoalhante fazia em minutos o que sabe, chacoalhava pelo pátio da UFF a bradar contra a professora, surpreendendo até o pacato Mário Grynspan que passava por lá.
Desfecho do artigo e da tragicomédia UFFiana, pelo menos nesse 2004 ímpar: PSTUsista, figura das mais singulares, que havia ignorado por completo o ocorrido no seminário, não havia se feito presente e há segundos ouvia o narrado por uma das partes envolvidas na contenda bradava animado: "pois é, liga não, esses acadêmicos são todos assim mesmo!" Isso é a UFF e, puta que pariu, é um dos melhores cursos de História do Brasil.
***
Prá não dizer que não falei de flores, como bradava o riponga tupiniquim ecoado pelos asseclas de Moscou nos idos da década de 60: os integrantes de minha turma são pessoas das mais dignas, mantenho boas relações com todos eles. Cito nominalmente os mais próximos, diria amigos até, após um ano de ótima convivência: um abraço para Leonardo, Rafael, Roberto, Tereza e para o socialista-caviar Thiago Krause, interlocutor em discussões normalmente bastante interessantes; e não esquecendo de Giuliana, que teve a sabedoria de abandonar o navio à primeira visão dos ratos- que, lembremos, fui eu que te apontei...
Felipe Svaluto Paúl( um ótimo 2005 a todos os leitores do blog)
E agora dou início ao fim. Após alguns momentos de reflexões espalhados pelos primeiros dias de férias, meditações sobre como criticar sem ser injusto alguns dos singularíssimos personagens que saltarão- e nada de metáfora, logo cuidado leitor- em breve por aqui, decido escrever enfim a última parte das memórias acerca de meu primeiro ano na UFF. O tom ainda não está certo, e certamente será variável ao longo do texto. De toda forma sairá basicamente como me veio de imediato a mente; prometo evitar injustiças em prol do estilo tanto quanto em prol da "boa convivência" com os pares da Corporação.
Começo com a inesquecível, infame, inócua e inútil matéria de nome Geohistória, assim mesmo, em gradação alfabética. A matéria nos foi dada por Rogério Haesbaert, e muito me orgulho caso tenha errado seu sobrenome. O ser não é má pessoa, a despeito de reclamações várias e típicas de alunos em relação a possíveis injustiças em correções de trabalhos; o problema é que sua matéria é algo absolutamente detestável, mais ainda quando feita em caráter obrigatório, pois inexplicavelmente consta do ciclo básico. Sem tentar chateá-los como forma de compensar a chateação vivida no semestre passado defino rapidamente a pretensão da matéria: articular conceitos históricos e geográficos na compreensão de determinada realidade/fenômeno. Bonitinho não? Lembra a interdisciplinaridade tão em voga. Mas fora análises de dois textos acerca de Braudel- pai-fundador da Geohistória, até hoje não sei se assumido ou não- tudo o mais que vimos foram conceitos de geografia, absolutamente variáveis segundo autor e carentes de qualquer aplicabilidade demonstrada; não foi feito um esforço sequer para demonstrar como esses conceitos podem ser utilizados em pesquisa histórica, apresentando para nós textos de historiadores com abordagem ao menos próxima da geohistória. O maior esforço nesse sentido foi feito pelos próprios alunos em Seminário que encerrou o curso, muito mais como forma de ganhar os pontos necessários que em busca de real aplicabilidade conceitual.
E essa foi a parte, por assim dizer, séria do curso. Houve também o involuntário humor que grassa em nossa universidade, pois Rogério destinava o início de algumas aulas a comentar notícias a princípio vinculadas com "temática da aula", rapidamente tornando-se tão e somente momentos para o professor destilar sua aversão a George W. Bush, com todos os chavões possíveis a um esquerdista blasé como ele não tardou a se evidenciar. Acresce-se a isso um dia trágico no qual "fomos a campo", ou seja atravessamos a rua e ficamos, dezenas de seres, postados em frente à Baía da Guanabara discutindo territórios-rede/territórios-zona; houve ainda a comicidade constante do semestre, produzida pelas intervenções de cidadão que em breve se chacoalhará por aqui.
Para amenizar falo rapidamente do curso de Mário Grynspan, já citado no primeiro artigo da série e exatamente nos mesmos termos que uso agora: o curso foi bom, tivemos uma boa visão das principais correntes da historiografia, bem como as mudanças enfrentadas pelos grandes eixos temáticos nos últimos tempos. Poderia porém ter sido ótimo curso caso o professor tivesse maior compromisso com o horário, defeito crônico de Mário já apontado no primeiro texto- em parte compensado por qualidade até agora singular, sendo ele professor que não apenas se crê engraçado- como todos os outros- mas é realmente capaz de excelentes piadas, o que descontraí o ambiente e não nos obriga a fingir risos como em outros cursos.
Ainda em relação a positividades do semestre cito aqui o curso de História Moderna, de Ronald Raminelli. A princípio tive reservas significativas em relação ao curso, devido ao método algo esquemático do professor em relação às aulas- tópicos postos no quadro, leitura de texto previamente escrito por ele seguindo os tópicos. Rapidamente mudei minha opinião, verificando que esse método permitia uma real objetividade na aula, sem que discussões inócuas fossem levantadas- salvo nas intervenções do ser chacoalhante, que em breve surge- e permitindo, pasmem os que me conhecem, que eu redigisse por vezes mais de uma folha por aula com as informações de Raminelli, que além de tudo ainda se mostrou prestativo na resposta a dúvidas minhas e elaborou um bom sistema de avaliação no qual cada aluno leu pelo menos capítulo de livro clássico sobre História Moderna. Enfim o melhor curso do semestre, compondo com Sociologia e História Medieval a tríade de melhores do ano.
Curso de Brasil 1, Fernanda Bicalho. A despeito da solicitação do amigo Roberto, quase tão fã de Bicalho quanto ser chacoalhante, aqui a crítica precisa ser feita e até incisivamente. Senhora Bicalho conseguiu raridade em turma tão repleta de singularidades e diferenças entre os indivíduos como a nossa: a quase unanimidade no que tange ao descaso, aversão ou mesmo em alguns momentos de fúria ódio pela pessoa dela. E aqui coloco novamente que não, ela não é pessoa má, nenhuma perfídia cometeu com a turma- ainda que tenha feito, no linguajar adolescente minimamente educado, algumas "sacanagens" consideráveis. Digamos que o curso começou até interessante, apesar das aulas não acrescerem absolutamente nada ao texto- defeito que parece existir em 9 entre 10 cursos na UFF, que chamo de "síndrome de discussão de texto" e detalharei mais adiante analisando América 1. Os problemas começaram a surgir quando, somadas às faltas constantes de muitos seres de- argh, ugh, eca- Arquivologia começaram também os componentes de minha turma a faltarem, em parte devido a legítima compreensão do quão inócuas eram as aulas ministradas e em outro tanto devido a quantidade e complexidade dos trabalhos diversos que outros cursos nos solicitavam. Aí a digna e altiva Bicalho não se fez de rogada e, descendo do púlpito da Corporação deu início a série de chiliques que passaram a dar o tom do curso. Todos a haviam abandonado, achavam que iam levar o curso na moleza, mas não iam não!, ela dizia com olhar algo ensandecido. Eis então que decide começar a fazer chamadas, prática que logo acabou por abandonar sem maiores explicações. Depois de mudar um trabalho em grupo para prova, vem a gota d’água: só poderão fazer a prova em casa aqueles que se fizerem presentes na última aula para pegar as questões. Vejam bem a lógica aqui empregada no período pós-chiliques: acreditando que a turma não mais se interessava pelas aulas dela a sra.Bicalho não procurou conversar com a turma, saber motivos das faltas, o porquê do desinteresse: não, decidiu simplesmente obrigar os alunos a freqüentarem as aulas, o que talvez acreditasse que aumentaria em algo o interesse dos alunos e sua compreensão da matéria. E ao fazê-lo, e ao fazê-lo senhores, ela ainda o fez mal, aliás pessimamente! No dia da entrega das provas não só estavam ali alunos que assistiram APENAS, digo TÃO E SOMENTE a última aula dela, a necessária para pegar as questões da prova, logo não ouviram chilique algum no qual estávamos levando a culpa por eles, bem como seres que NUNCA haviam assistido a UMA AULA SEQUER da distinta sra.Bicalho, nem mesmo a última. E é nesse belo clima de revolta, tendo eu acordado cedo em período de semi-férias, que ser chacoalhante profere sem interlocutor definido: " ah eu adoooro a Fernanda, se não fosse ela eu não estaria aqui hoje", e se torna impossível uma contenção de minha parte: "aí sim, aí eu concordo plenamente...se não fosse por Bicalho nenhum de nós estaria aqui hoje!". Todos riram mas ser chacoalhante não se fez de rogado e horas depois chacoalhava, diante de Bicalho e de toda a turma, por ocasião de entrega de prova sua.
Antes de falar acerca de América 1 abro espaço então para comentar sobre ser chacoalhante, também conhecido por apelidos menos simpáticos. O distinto ser integrou-se a nossa turma no segundo semestre, vindo do turno da Noite. A princípio parecia só um tipo relativamente habitual no curso de História, bastante devotado ao curso e com características algo peculiares de trejeitos e deslocamento. Mas logo o monstro emerge das profundezas: o ser mostrou-se de longe a figura mais nefanda com a qual até então interagi, pouco felizmente, no corpo discente. Perguntas ininterruptas em sala de aula são chatas, mas é um direito inalienável do aluno. Comentários inteiramente inoportunos, normalmente apenas para frisar ou mesmo reproduzir com outras palavras o dito pelo professor, no mais das vezes interrompendo o próprio...é ridículo, absurdamente ridículo quando feitos sistematicamente, quase uma dezena de vezes em uma aula de duas horas. Somado a isso o puxa-saquismo- só a linguagem da massa contempla o caso, bajulador é bom demais para ele- explícito e desavergonhado do moçoilo me geraram antipatia absoluta, felizmente não só em mim como em muitos da turma. Ele porém esbanjava simpatia, sempre conversando alegremente com todos, a saltitar e sorrir sem cessar, como que feliz por importunar e atrapalhar todo nosso processo de aprendizado, com comentários os mais estúpidos que ele crê, talvez, terem alguma pertinência. Em breve os senhores poderão vê-lo no carnaval, salvo engano na Viradouro, envergando fantasia absolutamente adequada.
Pois bem chego agora a América 1, curso de Fátima Gouveia. O curso não foi ruim, a professora não é ruim, mas é talvez o exemplo máximo da "síndrome de discussão de texto": para Fátima o curso se resume a textos passados e discussão em sala, discussão intensa, a tomar horas e horas giradas em torno de meia dúzia de questões. Se houve textos nos quais isso era pertinente, em muitos não o era, e só a dita "síndrome" explicava a necessidade de se construir uma discussão que não existia, tornando a aula maçante e não acrescendo nada ao que havíamos lido em casa. Fosse só isso tudo bem, a professora Fátima sairia até bem positiva em meu conceito, mas eis que veio o último dia do Seminário por ela organizado, episódio que mereceria um artigo à parte aqui. Como o texto já se estende em demasia tentarei a sempre difícil brevidade.
Pulando a apresentação de meu grupo no seminário, digna de elogios vários e agraciada com nota 10 pela professora; pulando a absolutamente inoportuna colocação de Thiago Krause, que só por ser pessoa das mais próximas na UFF eu não considerei como "sacanagem" juvenil das grandes; pulando os longos minutos de conversa com Krause e José Ernesto no corredor...adentro a apresentação de chacoalhante e os seus, nem tão surpreendido por sambinha de cuja ocorrência ali eu já era conhecedor. Eis porém que percebo que houve um conflito anterior entre chacoalhante e Fátima, ela havia interrompido o seminário e os dois ficaram a discutir um pouco, com chacoalhante sendo o mais ríspido que já vi em uma relação aluno-professor. Eis que com custo o seminário acaba e os dois voltam a discutir, chacoalhante mantendo o mesmo tom de empáfia e agressividade com Fátima, que por sua vez segurou as pontas até a sublevação das massas. Que sublevação? Pessoas que se consideravam prejudicadas pela avaliação começaram a tomar as dores de chacoalhante, pessoas sérias até, cujo mérito da reclamação nem posso julgar pois não assisti a apresentação delas. O fato é que Fátima se viu enredada em situação hostil e começou a aceitar qualquer coisa dita, mandando às favas sua avaliação anterior e chegando ao ponto de aumentar pontos para um grupo a partir de brincadeira de aluno e, sem mais, aumentar pontos para o grupo de chacoalhante, como que a equiparar duas apresentações ruins, sem critério objetivo algum! A professora mostrou ali fraqueza, saindo quase às lágrimas de sala; e chacoalhante, bem, chacoalhante fazia em minutos o que sabe, chacoalhava pelo pátio da UFF a bradar contra a professora, surpreendendo até o pacato Mário Grynspan que passava por lá.
Desfecho do artigo e da tragicomédia UFFiana, pelo menos nesse 2004 ímpar: PSTUsista, figura das mais singulares, que havia ignorado por completo o ocorrido no seminário, não havia se feito presente e há segundos ouvia o narrado por uma das partes envolvidas na contenda bradava animado: "pois é, liga não, esses acadêmicos são todos assim mesmo!" Isso é a UFF e, puta que pariu, é um dos melhores cursos de História do Brasil.
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Prá não dizer que não falei de flores, como bradava o riponga tupiniquim ecoado pelos asseclas de Moscou nos idos da década de 60: os integrantes de minha turma são pessoas das mais dignas, mantenho boas relações com todos eles. Cito nominalmente os mais próximos, diria amigos até, após um ano de ótima convivência: um abraço para Leonardo, Rafael, Roberto, Tereza e para o socialista-caviar Thiago Krause, interlocutor em discussões normalmente bastante interessantes; e não esquecendo de Giuliana, que teve a sabedoria de abandonar o navio à primeira visão dos ratos- que, lembremos, fui eu que te apontei...
Felipe Svaluto Paúl( um ótimo 2005 a todos os leitores do blog)