segunda-feira, dezembro 27, 2004
RETROSPECTIVA UFF 2004(2)
Promessa é dívida, mesmo quando a preguiça característica das férias se revela um obstáculo mais incomodo que o imaginado- dou aqui prosseguimento a saga de meu ano letivo quase findo, desta feita tratando da notória "Soninha" e os seus. Antes faz-se necessária uma colocação esquecida, sobre os motivos desse texto: não, não será agora que esse blog vai se render ao habitual e falar sobre situações de minha existência inteiramente inúteis para os leitores, temática da maioria de meus pares na blogosfera. Falar sobre a UFF é falar sobre mim quase acidentalmente, embora a primeira vista eu seja o centro das narrativas aqui; na verdade o que eu pretedendo mostrar, remetendo àquelas toscas metáforas realistas tão marteladas em nosso segundo grau, é a UFF enquanto organismo vivo, embora terminalmente doente. E isso, queiram ou não os senhores, é de interesse público- primeiro e obviamente pois são os senhores os financiadores das sandices narradas, através dos impostos; segundo e menos óbvio, a UFF não chega a ser um microcosmo da nação, não é tão heterodoxa quanto o país- e nem me foi possível averiguar o tamanho da heterogeneidade acadêmica, dado meu limitado círculo social no campus- mas não deixa de ser representativa. Longe de pretender um exercício sociológico aqui, algumas inflexões serão feitas, embora pretenda deixar a maioria das considerações a cargo dos próprios leitores; só achei necessária uma sempre longa introdução para esclarecer que tudo o que se diz aqui é também particular, mas não somente particular.
Pois bem: quem é Sônia Rebel me parece uma outra introdução adequada. Digo o necessário, aprofunde-se no link aquele que o quiser. Sônia Rebel é professora da UFF, ministrando História Antiga e outros poucos cursos; senhora de alguma idade(56?), aparentando bem mais- aqui dificilmente se lhe pode atribuir alguma culpa; figura afável, de comicidade voluntária razoável, embora seja bem mais engraçada quando se pretende séria. Ela foi minha professora de História Antiga no primeiro semestre, ou pelo menos deveria ter sido- a história citada em sala não foi tão antiga assim.
Desde o princípio Sônia Rebel não se preocupou em disfarçar seu esquerdismo tosco. Cobrar-me agora a cronologia do que foi proferido seria desumano, e reproduzir o dito seria ocioso- vocês terão relação incompleta mas significativa em link que logo surgirá aqui. Basta-me por ora dizer que não se falou muito em deuses, múmias ou mesmo zigurates no curso- pelo contrário, falou-se bastante em Bush, MST, capitalismo, privatizações e tutti quanti, obviamente tudo tratado com a profundidade e a lucidez de um Emir Sader. Somadas a isso as interrupções constantes e longas dos militantes, resultado óbvio: o cronograma não pôde ser completo; tivemos apenas UMA aula sobre Roma, a qual sequer assisti até o final- necessidade de entregar livro na biblioteca, que fechava mais cedo por ocasião de, adivinhe, greve; professora interpretou como revolta diante de mais um de seus comentários, desta feita acerca do Muro construído por Israel.
O que fazer diante de uma situação dessas? A maioria dos estudantes ficaria calada, aceitando impassível a doutrinação ideológica levada a cabo em sala de aula- é assim na imensa maioria, senão em todas as faculdades públicas brasileiras, e não é de hoje. Pelo menos desde a redemocratização do Brasil os comunistas fizeram dos campi o habitat privilegiado para sobrevivência e reprodução de sua espécie. Não contentes com o abrigo seguro concedido a um totalitarismo que pelo mundo se esfacela, ainda se empenham em angariar novos adeptos; qualquer aluno que venha a se opor a isso, qualquer um que por motivos diversos tenha escapado a doutrinação do segundo grau e à peneira ideológica do vestibular, se vê totalmente isolado e incapaz de ir de encontro a um comportamento considerado extremamente "normal" quando não "necessário" pelos integrantes do meio da corda doutrinadora, os militantes estudantis. A outra extremidade da corda, composta pelos raríssimos alunos defensores de ideologia menos assassina que o socialismo e pelos relativamente numerosos alunos sem ideologia qualquer, interessados apenas em fazer um curso de História o mais livre de ideologias possível, ficam a torcer pelo fim do curso do professor-doutrinador em questão. Seria o que faria, se não tivesse tomado conhecimento do site Escola sem Partido.
O Escola sem Partido é site elaborado pelo Sr. Miguel Nagib, brasiliense, de cuja existência eu já havia tomado conhecimento muito antes, através de carta dele publicada por Olavo de Carvalho na qual Nagib criticava professor de sua filha que havia comparado Che Guevara a São Francisco de Assis. Lembro de ter achado a carta interessante, mas um tanto inútil para mim- só reforçava minha convicção já há muito estabelecida e até senso comum na estudantina minimamente racional da existência de uma doutrinação absurda nos cursos de História e Geografia- no mínimo estes- no segundo grau. Eis que passado muito tempo recebo pela rede- agradeço ao colega Carlos Guilherme, gente boa apesar do olavismo empedernido que professa- o link do Escola sem Partido. De imediato vem a idéia que ainda levaria muito para se concretizar: denunciar Sônia Rebel ao site.
Os amigos da UFF bem sabem o quanto essa decisão demorou para ser tomada. Prós e contras foram pesados; li de Rodrigo Farias que estaria a cometer suicídio acadêmico; integrante da TFP me expressou que considerava batalha perdida e inócua, erro estratégico dos grandes; os já citados amigos da UFF se solidarizaram mas não pareceram muito animados com os possíveis efeitos da denúncia. Pois é, fico devendo os prós...se os houve foram ditados apenas pela minha consciência: o que Sônia Rebel fazia era absurdo e é apenas parcela de uma realidade ainda mais terrível; é imperativo que alguém, em todo esse país, decida dar o primeiro passo na luta contra a doutrinação. Esse alguém foi Miguel Nagib, e eu decidi segui-lo. Denúncia feita, algumas mensagens trocadas pela rede, denúncia publicada, repercussão nula; restou-me apenas a torcida para que minha denúncia incentivasse outras no site.
Eis que entro na rede em fim-de-semana como de praxe, esperando desfrutar de pacatos momentos de leituras diversas e boas conversas com amigos. Tão logo entro no icq vem a notícia, passada por Thiago Krause: estavam a comentar minha denúncia em fórum para alunos de História da UFF. Adentro de imediato e solicito minha inclusão na lista, que só viria bem depois; no meio tempo leio as sandices iniciais: um ataque fascista covarde havia sido perpetrado contra "Soninha" Rebel! Impossível não lembrar minhas leituras de transcrições do recente e já clássico debate de Olavo com Alaôr na Faculdade de Direito da USP, disponível na rede em diversas versões de espectadores: ao término do debate, do qual Alaôr saiu a gritar e reivindicar seus direitos junto à Corporação, um grupo de seres se ergueu de suas cadeiras e bradou animado: "alerta, alerta, alerta aos fascistas! A América Latina será toda socialista!", como que a conclamar o sempre presente espírito da idiotia latino-americana. O brado se repetia naquela comunidade: cidadã revoltada tomava as dores de Soninha, a falar sobre a terrível ameaça que havia sido feita a distinta, educada, correta e digna professora Sônia Rebel, exemplo de profissionalismo. Não tardaram a se somar outras vozes, formando coro bastante similar ao já citado, diferindo apenas em sua composição: nesse fórum surgiram também dois professores, doutores- Sra.Adriana Facina e Sr.Marcelo Badaró. Senhores reputados, autores de livros encontrados sem muitas dificuldades em livrarias especializadas, os professores doutores mostraram limitações intelectuais brutais, e aqui me refiro mesmo a elementar capacidade de compreensão textual; não satisfeita Facina ainda fechou sua participação deixando pender também sérios questionamentos quanto a seu arcabouço moral, posto que não respondeu a acusação feita por Nagib de ter proferido mentira a mais deslavada.
O exposto acima foi só síntese, pois dedos e mente cansam. Uma visão maior das sandices pode ser vista nessa bela seleta feita por Nagib de comentários postados na comunidade; creio ser ainda possível que os senhores leiam minhas réplicas no endereço do fórum, páginas e mais páginas de word a ecoar no vazio, tentativas vãs de fazer a sabedoria se impôr a malícia. Vãs? Nem tanto. Se não me foi possível convencer os militantes "profissionais", tarefa de aridez brutal posto que se combate normalmente deficiências intelectuais e morais simultaneamente, creio ter feito bom trabalho junto às pessoas que realmente importavam. Provas cabais: parcela significativa da minha turma ou apoia sem restrições a denúncia ou me considerou em pleno direito de fazê-la, sem ver qualquer problema ético-moral aí, apenas considerando, a meu ver utópica e estreitamente, que eu poderia resolver isso dentro da faculdade; e para coroar de vez as minhas certezas quanto à necessidade da denúncia surge no fim do semestre a avaliação feita pelos alunos em relação aos professores: "Soninha" recebe nota inferior a seis em dois critérios: abrangência do conteúdo e didática...não falaram os colegas através de denúncia, mas através da nota- e ainda há quem diga que avaliações tradicionais são injustas.
Fico por aqui, dada a já absurda extensão do texto. A quem quiser se aprofundar no assunto basta seguir os links referentes ao Escola sem Partido e ao Fórum do Yahoo colocados acima. Como sempre, meu e-mail encontra-se aberto a comentários quaisquer que não ofensivos.
Mas minha retrospectiva não finda aqui: a seguir, o segundo semestre. Plumas, paetês, adereços, saltos e chiliques; bobos a não mais poder: é carnaval fora de época na UFF.
[leia no artigo abaixo a parte 1 dessa série]
Felipe Svaluto Paúl( a ameaça fascista)
Promessa é dívida, mesmo quando a preguiça característica das férias se revela um obstáculo mais incomodo que o imaginado- dou aqui prosseguimento a saga de meu ano letivo quase findo, desta feita tratando da notória "Soninha" e os seus. Antes faz-se necessária uma colocação esquecida, sobre os motivos desse texto: não, não será agora que esse blog vai se render ao habitual e falar sobre situações de minha existência inteiramente inúteis para os leitores, temática da maioria de meus pares na blogosfera. Falar sobre a UFF é falar sobre mim quase acidentalmente, embora a primeira vista eu seja o centro das narrativas aqui; na verdade o que eu pretedendo mostrar, remetendo àquelas toscas metáforas realistas tão marteladas em nosso segundo grau, é a UFF enquanto organismo vivo, embora terminalmente doente. E isso, queiram ou não os senhores, é de interesse público- primeiro e obviamente pois são os senhores os financiadores das sandices narradas, através dos impostos; segundo e menos óbvio, a UFF não chega a ser um microcosmo da nação, não é tão heterodoxa quanto o país- e nem me foi possível averiguar o tamanho da heterogeneidade acadêmica, dado meu limitado círculo social no campus- mas não deixa de ser representativa. Longe de pretender um exercício sociológico aqui, algumas inflexões serão feitas, embora pretenda deixar a maioria das considerações a cargo dos próprios leitores; só achei necessária uma sempre longa introdução para esclarecer que tudo o que se diz aqui é também particular, mas não somente particular.
Pois bem: quem é Sônia Rebel me parece uma outra introdução adequada. Digo o necessário, aprofunde-se no link aquele que o quiser. Sônia Rebel é professora da UFF, ministrando História Antiga e outros poucos cursos; senhora de alguma idade(56?), aparentando bem mais- aqui dificilmente se lhe pode atribuir alguma culpa; figura afável, de comicidade voluntária razoável, embora seja bem mais engraçada quando se pretende séria. Ela foi minha professora de História Antiga no primeiro semestre, ou pelo menos deveria ter sido- a história citada em sala não foi tão antiga assim.
Desde o princípio Sônia Rebel não se preocupou em disfarçar seu esquerdismo tosco. Cobrar-me agora a cronologia do que foi proferido seria desumano, e reproduzir o dito seria ocioso- vocês terão relação incompleta mas significativa em link que logo surgirá aqui. Basta-me por ora dizer que não se falou muito em deuses, múmias ou mesmo zigurates no curso- pelo contrário, falou-se bastante em Bush, MST, capitalismo, privatizações e tutti quanti, obviamente tudo tratado com a profundidade e a lucidez de um Emir Sader. Somadas a isso as interrupções constantes e longas dos militantes, resultado óbvio: o cronograma não pôde ser completo; tivemos apenas UMA aula sobre Roma, a qual sequer assisti até o final- necessidade de entregar livro na biblioteca, que fechava mais cedo por ocasião de, adivinhe, greve; professora interpretou como revolta diante de mais um de seus comentários, desta feita acerca do Muro construído por Israel.
O que fazer diante de uma situação dessas? A maioria dos estudantes ficaria calada, aceitando impassível a doutrinação ideológica levada a cabo em sala de aula- é assim na imensa maioria, senão em todas as faculdades públicas brasileiras, e não é de hoje. Pelo menos desde a redemocratização do Brasil os comunistas fizeram dos campi o habitat privilegiado para sobrevivência e reprodução de sua espécie. Não contentes com o abrigo seguro concedido a um totalitarismo que pelo mundo se esfacela, ainda se empenham em angariar novos adeptos; qualquer aluno que venha a se opor a isso, qualquer um que por motivos diversos tenha escapado a doutrinação do segundo grau e à peneira ideológica do vestibular, se vê totalmente isolado e incapaz de ir de encontro a um comportamento considerado extremamente "normal" quando não "necessário" pelos integrantes do meio da corda doutrinadora, os militantes estudantis. A outra extremidade da corda, composta pelos raríssimos alunos defensores de ideologia menos assassina que o socialismo e pelos relativamente numerosos alunos sem ideologia qualquer, interessados apenas em fazer um curso de História o mais livre de ideologias possível, ficam a torcer pelo fim do curso do professor-doutrinador em questão. Seria o que faria, se não tivesse tomado conhecimento do site Escola sem Partido.
O Escola sem Partido é site elaborado pelo Sr. Miguel Nagib, brasiliense, de cuja existência eu já havia tomado conhecimento muito antes, através de carta dele publicada por Olavo de Carvalho na qual Nagib criticava professor de sua filha que havia comparado Che Guevara a São Francisco de Assis. Lembro de ter achado a carta interessante, mas um tanto inútil para mim- só reforçava minha convicção já há muito estabelecida e até senso comum na estudantina minimamente racional da existência de uma doutrinação absurda nos cursos de História e Geografia- no mínimo estes- no segundo grau. Eis que passado muito tempo recebo pela rede- agradeço ao colega Carlos Guilherme, gente boa apesar do olavismo empedernido que professa- o link do Escola sem Partido. De imediato vem a idéia que ainda levaria muito para se concretizar: denunciar Sônia Rebel ao site.
Os amigos da UFF bem sabem o quanto essa decisão demorou para ser tomada. Prós e contras foram pesados; li de Rodrigo Farias que estaria a cometer suicídio acadêmico; integrante da TFP me expressou que considerava batalha perdida e inócua, erro estratégico dos grandes; os já citados amigos da UFF se solidarizaram mas não pareceram muito animados com os possíveis efeitos da denúncia. Pois é, fico devendo os prós...se os houve foram ditados apenas pela minha consciência: o que Sônia Rebel fazia era absurdo e é apenas parcela de uma realidade ainda mais terrível; é imperativo que alguém, em todo esse país, decida dar o primeiro passo na luta contra a doutrinação. Esse alguém foi Miguel Nagib, e eu decidi segui-lo. Denúncia feita, algumas mensagens trocadas pela rede, denúncia publicada, repercussão nula; restou-me apenas a torcida para que minha denúncia incentivasse outras no site.
Eis que entro na rede em fim-de-semana como de praxe, esperando desfrutar de pacatos momentos de leituras diversas e boas conversas com amigos. Tão logo entro no icq vem a notícia, passada por Thiago Krause: estavam a comentar minha denúncia em fórum para alunos de História da UFF. Adentro de imediato e solicito minha inclusão na lista, que só viria bem depois; no meio tempo leio as sandices iniciais: um ataque fascista covarde havia sido perpetrado contra "Soninha" Rebel! Impossível não lembrar minhas leituras de transcrições do recente e já clássico debate de Olavo com Alaôr na Faculdade de Direito da USP, disponível na rede em diversas versões de espectadores: ao término do debate, do qual Alaôr saiu a gritar e reivindicar seus direitos junto à Corporação, um grupo de seres se ergueu de suas cadeiras e bradou animado: "alerta, alerta, alerta aos fascistas! A América Latina será toda socialista!", como que a conclamar o sempre presente espírito da idiotia latino-americana. O brado se repetia naquela comunidade: cidadã revoltada tomava as dores de Soninha, a falar sobre a terrível ameaça que havia sido feita a distinta, educada, correta e digna professora Sônia Rebel, exemplo de profissionalismo. Não tardaram a se somar outras vozes, formando coro bastante similar ao já citado, diferindo apenas em sua composição: nesse fórum surgiram também dois professores, doutores- Sra.Adriana Facina e Sr.Marcelo Badaró. Senhores reputados, autores de livros encontrados sem muitas dificuldades em livrarias especializadas, os professores doutores mostraram limitações intelectuais brutais, e aqui me refiro mesmo a elementar capacidade de compreensão textual; não satisfeita Facina ainda fechou sua participação deixando pender também sérios questionamentos quanto a seu arcabouço moral, posto que não respondeu a acusação feita por Nagib de ter proferido mentira a mais deslavada.
O exposto acima foi só síntese, pois dedos e mente cansam. Uma visão maior das sandices pode ser vista nessa bela seleta feita por Nagib de comentários postados na comunidade; creio ser ainda possível que os senhores leiam minhas réplicas no endereço do fórum, páginas e mais páginas de word a ecoar no vazio, tentativas vãs de fazer a sabedoria se impôr a malícia. Vãs? Nem tanto. Se não me foi possível convencer os militantes "profissionais", tarefa de aridez brutal posto que se combate normalmente deficiências intelectuais e morais simultaneamente, creio ter feito bom trabalho junto às pessoas que realmente importavam. Provas cabais: parcela significativa da minha turma ou apoia sem restrições a denúncia ou me considerou em pleno direito de fazê-la, sem ver qualquer problema ético-moral aí, apenas considerando, a meu ver utópica e estreitamente, que eu poderia resolver isso dentro da faculdade; e para coroar de vez as minhas certezas quanto à necessidade da denúncia surge no fim do semestre a avaliação feita pelos alunos em relação aos professores: "Soninha" recebe nota inferior a seis em dois critérios: abrangência do conteúdo e didática...não falaram os colegas através de denúncia, mas através da nota- e ainda há quem diga que avaliações tradicionais são injustas.
Fico por aqui, dada a já absurda extensão do texto. A quem quiser se aprofundar no assunto basta seguir os links referentes ao Escola sem Partido e ao Fórum do Yahoo colocados acima. Como sempre, meu e-mail encontra-se aberto a comentários quaisquer que não ofensivos.
Mas minha retrospectiva não finda aqui: a seguir, o segundo semestre. Plumas, paetês, adereços, saltos e chiliques; bobos a não mais poder: é carnaval fora de época na UFF.
[leia no artigo abaixo a parte 1 dessa série]
Felipe Svaluto Paúl( a ameaça fascista)
quinta-feira, dezembro 23, 2004
RETROSPECTIVA UFF 2004(1)
Universidade Federal Fluminense, o templo da insânia. Insanidade democrática e popular, ostensiva e ostentada, translúcida e exata- a insanidade como ciência, com cadeiras e corpos docente e dicente próprios. É sobre a casa de loucos niteroiense que se falará aqui, um microterritório indisciplinado, um entre tantos deformadores universitários espalhados pelo Leviatã coletivista país afora, um Ateneu público. Peço que leiam com atenção uma vez, mas tão e somente uma- o abismo converte em monstros aqueles que o olham por muito tempo.
Ingressei na casa de loucos no começo desse ano que finda. Fui com espírito preparado e armado, ciente do que me aguardava. Mal chego aos portões surge um louco típico, a vagar com montes de papéis diversos nas mãos, extensões de corpo e mente, tão débeis e precários quanto. Passo a distância segura dos papéis, mas não da fala algo tímida. "Gosta de poesia?". Não, não gosto, e se gostasse não seria de uma entregue no pórtico de lugar qualquer; mas bate a curiosidade antropológica: "depende". O cidadão me mostra a folha, impressão péssima, batida a máquina salvo engano. Enquanto tento ler fala- deus, quem explica a própria poesia? Fala de críticas ao consumismo, a sociedade, a tudo-que-está-aí. Renego, despeço-me e agradeço- o exótico ser me deu um belo prelúdio do que viria. De toda forma, fora o texto, o poeta era inofensivo, justificando o seu vagar livre; pior foi descobrir pouco depois que a casa dos loucos concedia o mesmo privilégio a habitantes menos prosaicos.
Inscrição nas matérias; pura formalidade, já que nada poderia fazer além de eliminar alguma coisa mais desagradável. Tão logo chego ao local vem a abordagem, o primeiro contato com o mais popular tipo acadêmico, o militante. Discursos contra a Reforma Universitária, privatização da universidade, papéis, papéis. Recuso pasquim do PSTU, semblante da neohippie algo assustado- deve ter me imaginado como integrante de algum grupelho rival. Fila extensa, certa anarquia, cidadão a vociferar qualquer coisa. Fala mal de professores, do curso, do Lula e do FMI. Professora sai, repreende- não se fala mal dos professores ora! Críticas infundadas! Assustando os calouros! Não apareceu defensor para o FMI.
E começam as aulas.
E como foram as aulas? Professores marxistas a chafurdar na luta de classes? Felizmente não. Aqui confesso a surpresa: ainda por demais na órbita de influência do olavismo, esperava a vermelhidão plena nas salas de aula- e não a republicana. Ao contrário, a razoabilidade docente foi muito além do esperado, e aqui se faz necessária uma menção nominal. Falo do professor Rafael, que talvez nem veja com bons olhos ser citado em texto desse gênero- peço desculpas caso acerte, mas maiores desculpas seriam necessárias se não o citasse. Rafael foi meu professor de Sociologia, e foi excelente. O curso se centrou na tríade notória: Durkheim, Marx e Weber, com textos introdutório e acessórios. Os três pensadores foram trabalhados sem favorecimentos. Críticas de Weber a Marx foram citadas, quando as havia; nas aulas expositivas Rafael parecia se colocar como um teórico da corrente apresentada, e fazia críticas apenas baseado em interpretações de outras correntes ou sociólogos posteriores; piadas bem colocadas descontraiam a aula e avaliações interessantes e pertinentes mediram os conhecimentos da turma.
Aproveitando a pausa na ironia tosca que por vezes tento desenvolver cumpre também elogiar nominalmente a professora Georgina, que nos apresentou a interessante e subestimada História Medieval. Georgina goza de reputação péssima junto aos meliantes, digo, militantes, e as notícias logo chegaram a nós- a fofoca, que pensava ser peculiaridade colegial, corre solta na faculdade. A mulher foi apresentada como espécie de monstro que nos devoraria a menor falha, ditadora implacável, desumana e cruel- mais ou menos como eles apresentam Bush, Sharon e a maior parte dos governantes eleitos. Mas foi exatamente o oposto: professora tranqüila, imensamente interessada no aprendizado dos alunos- sem dúvida quem mais nos cobrou a leitura dos textos, inclusive com espécies de "argüições" rotineiras, que não valiam ponto mas impunham a leitura para evitar a vexatória situação de não ter como responder. Os textos mesmos foram bem selecionados: a professora, dita culturalista- palavra que desperta asco nos militantes- encheu-nos de textos sobre as relações de produção medievais e leu a aceitação do cristianismo no Império Romano sob a ótica marxista de Donini. Não faltaram os baluartes, clássicos incontestes: Duby, Fourquin, Le Goff, Marc Bloch. Avaliações honestas, incluindo um interessante trabalho de comparação entre duas visões distintas sobre o renascimento urbano medieval- que me apresentou Henri Pirenne, com o qual me depararia surpreendentemente ainda nesse ano.
Comentários rápidos sobre Antropologia e a barroca Introdução aos Estudos Históricos: antropologia foi curso assaz desagradável, com professora das mais singulares e deficientes- embora seja pessoa de excelente trato pessoal; Introdução nos foi dada pelo não menos singular Mário Gryspan, que no segundo semestre nos ministrou a não menos barroca Teoria, Métodos e Historiografia. Gryspan é excelente professor, bom domínio da matéria, grande conhecimento sobre a historiografia e senso de humor espetacular. Contra ele pesam somente os atrasos de praxe e folclóricos no campus, mas nada que tenha comprometido o curso significativamente- pesaram-me mais no segundo semestre, pois a matéria de Gryspan somava-se a Moderna( de Ronald Raminelli, curso que tratarei mais adiante) no estreito rol das aulas que eu realmente assistia com interesse.
Sobrou do primeiro semestre Sônia Rebel, a popular "Soninha", já aqui apresentada em artigo anterior. Pela relevância que essa senhora tomou em minha existência ela merece um artigo a parte, que não será exclusivamente dedicado a ela apenas por agregar sua milícia simplória. A princípio haverá ainda artigo terceiro sobre as singularidades do segundo período, com o exotismo irrompendo ainda mais próximo de mim, em corpos docente e discente, doentes ambos; mas tudo dependerá das atividades a realizar nessas quase-férias.
***
Artigo em O GLOBO, 20 de dezembro, relata que em portal do MEC destinado a divulgar obras consideradas "clássicos da cultura" há 21 textos de Marx, 9 de Engels, 12 de Lênin e 15 de Trótski; nenhum de Hobbes, Locke, Durkheim, Weber, Tocqueville. Cidadão responsável ainda tem a pachorra de dizer que isso se deu apenas pela vicissitude de que o portal só publica traduções de domínio público- como se não as houvesse dos pensadores não esquerdistas ausentes!! Mas claro, deve ser obra do acaso. A educação brasileira não é voltada para a doutrinação esquerdista, MEC à frente. O Escola sem Partido é obra de paranóicos; certos estão Badaró, Facina e seus alunos queridos- para quem não conhece ainda, personagens do próximo capítulo.
Felipe Svaluto Paúl( quase de férias)
Universidade Federal Fluminense, o templo da insânia. Insanidade democrática e popular, ostensiva e ostentada, translúcida e exata- a insanidade como ciência, com cadeiras e corpos docente e dicente próprios. É sobre a casa de loucos niteroiense que se falará aqui, um microterritório indisciplinado, um entre tantos deformadores universitários espalhados pelo Leviatã coletivista país afora, um Ateneu público. Peço que leiam com atenção uma vez, mas tão e somente uma- o abismo converte em monstros aqueles que o olham por muito tempo.
Ingressei na casa de loucos no começo desse ano que finda. Fui com espírito preparado e armado, ciente do que me aguardava. Mal chego aos portões surge um louco típico, a vagar com montes de papéis diversos nas mãos, extensões de corpo e mente, tão débeis e precários quanto. Passo a distância segura dos papéis, mas não da fala algo tímida. "Gosta de poesia?". Não, não gosto, e se gostasse não seria de uma entregue no pórtico de lugar qualquer; mas bate a curiosidade antropológica: "depende". O cidadão me mostra a folha, impressão péssima, batida a máquina salvo engano. Enquanto tento ler fala- deus, quem explica a própria poesia? Fala de críticas ao consumismo, a sociedade, a tudo-que-está-aí. Renego, despeço-me e agradeço- o exótico ser me deu um belo prelúdio do que viria. De toda forma, fora o texto, o poeta era inofensivo, justificando o seu vagar livre; pior foi descobrir pouco depois que a casa dos loucos concedia o mesmo privilégio a habitantes menos prosaicos.
Inscrição nas matérias; pura formalidade, já que nada poderia fazer além de eliminar alguma coisa mais desagradável. Tão logo chego ao local vem a abordagem, o primeiro contato com o mais popular tipo acadêmico, o militante. Discursos contra a Reforma Universitária, privatização da universidade, papéis, papéis. Recuso pasquim do PSTU, semblante da neohippie algo assustado- deve ter me imaginado como integrante de algum grupelho rival. Fila extensa, certa anarquia, cidadão a vociferar qualquer coisa. Fala mal de professores, do curso, do Lula e do FMI. Professora sai, repreende- não se fala mal dos professores ora! Críticas infundadas! Assustando os calouros! Não apareceu defensor para o FMI.
E começam as aulas.
E como foram as aulas? Professores marxistas a chafurdar na luta de classes? Felizmente não. Aqui confesso a surpresa: ainda por demais na órbita de influência do olavismo, esperava a vermelhidão plena nas salas de aula- e não a republicana. Ao contrário, a razoabilidade docente foi muito além do esperado, e aqui se faz necessária uma menção nominal. Falo do professor Rafael, que talvez nem veja com bons olhos ser citado em texto desse gênero- peço desculpas caso acerte, mas maiores desculpas seriam necessárias se não o citasse. Rafael foi meu professor de Sociologia, e foi excelente. O curso se centrou na tríade notória: Durkheim, Marx e Weber, com textos introdutório e acessórios. Os três pensadores foram trabalhados sem favorecimentos. Críticas de Weber a Marx foram citadas, quando as havia; nas aulas expositivas Rafael parecia se colocar como um teórico da corrente apresentada, e fazia críticas apenas baseado em interpretações de outras correntes ou sociólogos posteriores; piadas bem colocadas descontraiam a aula e avaliações interessantes e pertinentes mediram os conhecimentos da turma.
Aproveitando a pausa na ironia tosca que por vezes tento desenvolver cumpre também elogiar nominalmente a professora Georgina, que nos apresentou a interessante e subestimada História Medieval. Georgina goza de reputação péssima junto aos meliantes, digo, militantes, e as notícias logo chegaram a nós- a fofoca, que pensava ser peculiaridade colegial, corre solta na faculdade. A mulher foi apresentada como espécie de monstro que nos devoraria a menor falha, ditadora implacável, desumana e cruel- mais ou menos como eles apresentam Bush, Sharon e a maior parte dos governantes eleitos. Mas foi exatamente o oposto: professora tranqüila, imensamente interessada no aprendizado dos alunos- sem dúvida quem mais nos cobrou a leitura dos textos, inclusive com espécies de "argüições" rotineiras, que não valiam ponto mas impunham a leitura para evitar a vexatória situação de não ter como responder. Os textos mesmos foram bem selecionados: a professora, dita culturalista- palavra que desperta asco nos militantes- encheu-nos de textos sobre as relações de produção medievais e leu a aceitação do cristianismo no Império Romano sob a ótica marxista de Donini. Não faltaram os baluartes, clássicos incontestes: Duby, Fourquin, Le Goff, Marc Bloch. Avaliações honestas, incluindo um interessante trabalho de comparação entre duas visões distintas sobre o renascimento urbano medieval- que me apresentou Henri Pirenne, com o qual me depararia surpreendentemente ainda nesse ano.
Comentários rápidos sobre Antropologia e a barroca Introdução aos Estudos Históricos: antropologia foi curso assaz desagradável, com professora das mais singulares e deficientes- embora seja pessoa de excelente trato pessoal; Introdução nos foi dada pelo não menos singular Mário Gryspan, que no segundo semestre nos ministrou a não menos barroca Teoria, Métodos e Historiografia. Gryspan é excelente professor, bom domínio da matéria, grande conhecimento sobre a historiografia e senso de humor espetacular. Contra ele pesam somente os atrasos de praxe e folclóricos no campus, mas nada que tenha comprometido o curso significativamente- pesaram-me mais no segundo semestre, pois a matéria de Gryspan somava-se a Moderna( de Ronald Raminelli, curso que tratarei mais adiante) no estreito rol das aulas que eu realmente assistia com interesse.
Sobrou do primeiro semestre Sônia Rebel, a popular "Soninha", já aqui apresentada em artigo anterior. Pela relevância que essa senhora tomou em minha existência ela merece um artigo a parte, que não será exclusivamente dedicado a ela apenas por agregar sua milícia simplória. A princípio haverá ainda artigo terceiro sobre as singularidades do segundo período, com o exotismo irrompendo ainda mais próximo de mim, em corpos docente e discente, doentes ambos; mas tudo dependerá das atividades a realizar nessas quase-férias.
***
Artigo em O GLOBO, 20 de dezembro, relata que em portal do MEC destinado a divulgar obras consideradas "clássicos da cultura" há 21 textos de Marx, 9 de Engels, 12 de Lênin e 15 de Trótski; nenhum de Hobbes, Locke, Durkheim, Weber, Tocqueville. Cidadão responsável ainda tem a pachorra de dizer que isso se deu apenas pela vicissitude de que o portal só publica traduções de domínio público- como se não as houvesse dos pensadores não esquerdistas ausentes!! Mas claro, deve ser obra do acaso. A educação brasileira não é voltada para a doutrinação esquerdista, MEC à frente. O Escola sem Partido é obra de paranóicos; certos estão Badaró, Facina e seus alunos queridos- para quem não conhece ainda, personagens do próximo capítulo.
Felipe Svaluto Paúl( quase de férias)