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sábado, fevereiro 21, 2004

LOUCURA COMO MÉTODO: ARNALDO JABOR E O FANTASMA DA DIREITA REACIONÁRIA BRASILEIRA
Um fantasma ronda o Brasil- o fantasma da direita reacionária. Bicho esquisito, não se mostra com o mesmo ímpeto que seus símiles da Gasparetto ou com a dramaticidade dos espectros clássicos; não faz tampouco rir como seus pares de filmes trash, mixórdias de borrões e riscos sobre a película; não, o fantasma da direita reacionária é de tipo peculiar, excêntrico e absolutamente reservado. Não podem vê-lo os pobres mortais, mas também não o podem os médiuns, pais-de-santo ou xamãs; só conseguem visualizá-lo serem de privilegiada casta, acima do bem e principalmente do mal: os intelectuais. Professores universitários, jornalistas de toda sorte, músicos populares e escritores populistas, ou vice-versa: todos possuem a ímpar habilidade de vislumbrar esse monstro secular e abismal.
Quem o vê jamais esquece, repetem os privilegiados. É monstro horrendo e multiforme, variando seu aspecto de acordo com o observador, como que imerso no relativismo- ainda que reacionário. Por vezes mostra-se como “a burguesia”, principalmente para seres de mais idade e lenços vermelhos no pescoço; outras vezes apresenta-se sob o monstruoso traje da “elite branca”, portando a temida caveira da SS na lapela; diante de modernos de toda espécie- e sexo- surge envergando bata sacerdotal e cedro, como a visão da “Igreja conservadora”; para os jovens cultores do assassino argentino, limita-se ao frágil mas superestimado aspecto “neoliberal”; mas é para terrível e atuante espécime cara ao habitat nacional que ele se mostra em sua forma mais singela e inoperante, certamente envergonhado e temeroso de monstro a ele próprio superior: diante do exemplar-mor da crescente fauna de cineastas-comentaristas políticos-escritores, o monstro se acanha e murcha, limitando-se a ser piada grosseira de si mesmo. É aí que a direita reacionária veste a camisa dos coronéis PFL e PMDB, e trabalha com afinco para manter o Mesmo. Assim Mesmo, com maiúscula, talvez evocando outro impiedoso monstro de nosso bestiário.
E o que faz o monstro diante dos olhos do articulista para manter o Mesmo firme e forte? Agonizando sob visão tão dantesca, perde nosso amigo boa parte de seus poderes; abandona pendores ideológicos e pensa apenas no básico, na manutenção de sua desgastada fisiologia. Com essa idéia na cansada mente torna-se ser bipartido, Harvey Dent tupiniquim: atira o cobre ao alto buscando uma decisão, mas o impiedoso Homem-Cinema exige conclusão racional e atira um impiedoso artigo na moeda do rapaz; divido, confuso, rompe: o PMDB une-se a Liga dos Heróis Paladinos, e resta ao PFL a manutenção do cada vez mais desconfortável papel de vilão nesse filme Z.
Inadequado a tão frágil forma, nosso espectro busca esconder-se sob as barbas ora aparadas do poder. Sobrevive a duras penas, acordos mil e bravatas toleradas pelos campeões da arte. Os ilibados homens do poder se regozijam. Mas esquecem os Paladinos a lição do Dr.Kritzinger em Wannsee: o inimigo objetivo é sempre necessário. Uma vez morto, perde o sistema que o criou a razão de existir.
Tendo passado desapercebido pelo poderio oficial cabe ao Homem-Cinema a lembrança de 42: é preciso ressuscitar o Monstro, o fantasma da direita reacionária. E que melhor ocasião para a necromancia que o estouro de um escândalo no seio paladino? Desespero e inaptidão no Planalto, tranqüilidade na mente do Homem-Cinema: há sempre uma coluna de jornal a esperar avidamente seus feitiços.
Palavras mágicas, sofismas torpes, óbvios que ululam: assim age o Mago da Tela Grande no ressuscitar do demônio. O bicho porém se recusa a repetir o vampyr eslavo, obrigando o Homem-Cinema a recorrer a arma secreta que tanto aprecia: conclama a união progressista contra o Monstro Espectral! Passa outra vez por cima dos correligionários candangos e resolve acabar com quizilas internas; em fúria intestina acusa o monstro falecido de ter se apropriado do escândalo para impedir a marcha linda do progresso, coordenada por Paladino bicheiro; chama as forças defensoras do solo varonil a união por tantos homens-bons desejada: aquela entre tucanos e sapos barbudos- que precede horrendo “tinham” na alocução mágica- se faz premente para Salvação das Almas. Apropriado, sem dúvida. Tucanos e sapos lembram nosso joguinho tipicamente fluminense; e a Salvação lembra os amigos Universais, aqui citados outrora, que obviamente não se furtariam a tão belo apelo civilizatório e já se fazem representar no escândalo-libertação com o deputado à Hitler.
Surpresos com a conversão de escândalo em rito civilizatório? Mais ficarão ao saber que o Monstro ignaro mordeu a isca: ressuscita, bafejando hálito mortuário a todo canto; pede por moral que nunca teve, conclama a coerência jamais mantida, arvora-se como defensor dos que o rejeitam, busca lembrar-se do significado do L em sua sigla. Felizes e serelepes, os Paladinos apelam aos argumentos do Monstro de ontem; lembram a dupla moral; citam a corrupção inata da democracia burguesa- maldita seja! A revolução vai demorar, avisam aos eternos jeca-tatus, em emblemática frase como que a demonstrar o caráter diversionista dessa zorra abençoada.
Fica o pior para o final: o Monstro também ri e se diverte. Um riso nervoso, sem dúvida, mas divertido. Começa a crer que está forte de novo(?), que tem como lutar contra o Homem-Cinema e sua iminente aliança civilizatória, que representa não mais alguéns, mas sim alguma coisa, talvez o estranho L na sigla de sua mais rota vestimenta. Ainda pior: COMEÇA A ACREDITAR QUE EXISTE REALMENTE.
Cumpre-me apenas a lembrança: quando o vampyr morre pela segunda vez o descanso é eterno.
Felipe Svaluto Paúl(que lamenta não ter a credulidade de uns e outros)

sábado, fevereiro 07, 2004

NEOPENTECOSTALISMO: A AMEAÇA IGNORADA
“Não se deixe enganar”. Assim é a chamada expressa em carregado vermelho com a qual me deparei ao receber hoje o exemplar do mês corrente do mensário CATOLICISMO, revista oficial da TFP. Como texto complementar, ainda na capa, lê-se: “Saiba defender-se das ciladas protestantes”. Como imagem temos um dito pastor em “cerimônia” em praça pública, talvez expulsando um encosto de azarado citadino. O público observa com grave atenção e algumas expressões de dúvida diante do ato dramático.
Confesso que ao ler tais frases esperava algo diverso do encontrado no interior da revista; imaginava que enfim uma publicação se poria a demonstrar a enorme ameaça representada pelo neopentecostalismo a nossa nação, sem meio tom ou temor frente ao politicamente correto- características de coragem sempre assumidas pela revista. Enganei-me. Voltada obviamente para público católico a revista ocupou-se de replicar a críticas de cunho teológico feitas pelos protestantes a Igreja; não sendo também discípulo dos reformadores nem douto em matérias bíblicas apenas li por alto o texto, e o farei com mais atenção posteriormente apenas por curiosidade intelectual. Teve porém o texto o mérito de me lembrar a necessidade de tratar dos fenômeno neopentecostal aqui, após introdução já tradicionalmente longa.
Antes de qualquer coisa reforço que as querelas entre Igreja e protestantes não serão o tema deste artigo. A priori nada tenho contra os reformadores, e questões históricas e sociológicas sobre a Reforma e suas conseqüências permanecem para mim em aberto: há quem diga ainda baseando-se em Weber que o protestantismo foi vital para constituir base ética sem a qual o capitalismo não se desenvolveria- outros renegam a idéia; não falta quem diga que foi a Reforma vital para a difusão dos ideais de democracia e liberdade e igualdade jurídica, mas não faltam também os que acusam o teor totalitário do protestantismo e suas seitas; faltam-me meios para atuar como juiz diante de diante destas e outras questões, e cumpre-me apenas lembrar que nos últimos dois séculos, enquanto nações tradicionalmente católicas amargavam o status de periferia na geopolítica, coube a duas nações essencialmente reformistas a manutenção e difusão da civilização ocidental, do liberalismo e do Estado de Direito- Inglaterra no século XIX e Estados Unidos no século passado.
Tendo deixado claro que não considero o protestantismo tradicional uma ameaça, explico agora porque atribuo este status a sua vertente neopentecostal, tratando especificamente do caso brasileiro, o qual tenho acompanhando já há certo tempo. Centro-me nos pastores televisivos, notadamente naqueles que coordenam a seita pentecostal de maior expansão atualmente: a Igreja Universal do Reino de Deus. Uso-a como exemplo de situação que pouco difere em suas similares neopentecostais.
Acredito que todos os meus leitores já se viram ao menos alguns minutos diante da tv a ouvir as falas de Bispo Clodomir e seus símiles; a seita a que atendem é a única instituição religiosa que conta com canal aberto e de alcance nacional, e ingênuo é aquele que acredita ser isso mero acaso. A seita trabalha com enorme sucesso nessa mídia pois a atuação nela congrega os dois campos reais de atuação da Nação: os negócios e a política...salvação das almas? Deixe-se isso para a decadente Igreja, parecem dizer por entre sorrisos falsos os senhores bispos.
Mas como, uma religião sem teologia? Exato senhores, é isso mesmo. A Igreja Universal não trata em seus programas da salvação da alma, de preceitos morais a serem seguidos pelos seus, de análises de ensinamentos de Cristo. A Bíblia, quando usada, é limitada a passagens nas quais é evocado o sacrifício do fiel a fim de receber determinada graça dos céus. Na Igreja Universal, não é o fiel que cumpre os desígnios de Deus na Terra; é este último que parece impaciente Ente, que fica no Paraíso apenas a esperar que a ovelha entre pela porta do Templo Maior para virar por completo sua vida.
No mundo da Universal, ao fiel basta o crer: creia que Deus mudará sua vida e ele o fará. Não falta madrugada em que apareçam mais de meia dúzia de depoimentos- normalmente concomitantes a toscas dramatizações- de pessoas que eram desempregadas, tinham problemas familiares, depressão e toda sorte de males...todos invariavelmente tornam-se prósperos empresários após a simples freqüência da reunião dominical dos senhores bispos; não há também porque duvidar que os contemplados mantém o pagamento do dízimo sempre em dia...
Alguém argumentará que tal doutrina se coaduna com o protestantismo tradicional, argumentando seja para qualificar os neopentecostais ou desqualificar os genuínos reformistas. Embora me falte como disse as bases teológicas, refuto com análise simples: leiam textos de Calvino e Lutero; vejam neles quantas passagens evocam Deus como aquele que dá graças materiais, e quantas se referem ao fiel como aquele que pela fé almeja alcançar o Paraíso Eterno; comparem depois com nossos pastores televisivos e tentem manter a refutação.
Visto que a Igreja Universal é essencialmente crença materialista, na qual Deus é evocado apenas como Ente distribuidor de casas, carros e empresas, fica a pergunta: no que isso prejudica àquele que não é fiel do Sr.Macedo? Aqui entra o segundo ramo de atuação da seita e suas irmãs materialistas: a política.
Engana-se quem pensa que a atuação política das seitas se limita a alguns deputados- a cada dia em maior número- no congresso. Tendo como público-alvo de seus templos o cidadão de baixa escolaridade- ainda que cada vez mais penetre na classe média decadente- os bispos também baseiam seu sucesso político neste mesmo grupo, fiéis que vêem em um voto em Crivela genuína expressão de amor a Deus e suas obras. Tal interdependência faz com que não haja nada nas propostas políticas de seus candidatos que não o mais puro e pueril populismo, voltado essencialmente a políticas assistencialistas para seus próprios fiéis, que dessa forma também melhoram um pouco suas tristes existências e vêem nisso inequívoco aval divino a suas ações.
Dessa forma, o aumento do número de protestantes gera em nossa pátria fenômeno inverso ao ocorrido nos Estados Unidos: aqui tal crença só faz diminuir as já mínimas possibilidades de vitória de projetos liberais em eleições; exemplos claros disso são o domínio eleitoral da família Garotinho sobre o Rio- eles perceberam mui espertamente que não precisam dos votos dos instruídos e ricos e remediados para vencer- e a própria vitória do Sr.Molusco, que se obviamente não pode ser associada apenas ao neopentecostalismo não deve também ser completamente dissociada deste- cumpre lembrar o apoio ao Molusco do ironicamente chamado Partido Liberal, braço da Universal na política. Não houvesse Molusco mas permanecendo Garotinho, os riscos de termos o homem da Terra do Chuvisco como presidente seriam consideráveis o suficiente para reservarmos as passagens de ida para o Uruguai.
Lembro ainda que as perspectivas nesse campo são negras: a expansão das seitas é inevitável e crescente, e o Brasil Católico é cada vez mais uma construção mais retórica que real; em seu caráter maleável e carente de doutrina sólida, a Universal e suas irmãs adaptam símbolos e idéias conforme as necessidades do ouvinte, e não duvidem que nossa classe média em breve embarcará animadamente na nave do Templo Maior, rumo ao Paraíso terrestre.
O que fazer contra isso? Nova Inquisição? Proibição das seitas? Atentados contra seus líderes? Nada tão insano e torpe é necessário. Para destruí-los basta lembrar que seus bispos são tão ou mais materialistas que os próprios fiéis, e não tardam em criar seu próprio paraíso, normalmente em dúplex no Recreio...compreendem? Usemos o Estado Macro a nosso favor apenas uma única vez: Receita Federal neles, e em dois meses acabamos com essa canalhice que chega a justificar o célebre dito de Marx.
Felipe Svaluto Paúl(o único leitor não católico da CATOLICISMO)
PS1: A quem interessar possa informo que passei no vestibular para o curso de História de UFRJ e UFF; embora os resultados oficiais ainda não tenham sido divulgados posso certificar-me do sucesso pelas notas obtidas; a essas vitórias soma-se já anunciada conquista de vaga também para a UNIRIO, que se deu ainda nos tempos do Último Bunker através do ENEM. Pois é, enfim conhecerei a capital do antigo Estado do Rio de Janeiro...
PS2: Não faltaram os que reclamaram da ausência de atualizações; justifico não com compromissos, mas com natural descanso de férias de alguém que passou boa parte de 2003 estudando. Prometo porém a meus inúmeros leitores maior atenção ao site a partir de agora.

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